A Liberdade irrompeu no terreno da privacidade e destruiu a intimidade. Os “open space” e as conferências zoom, as consultas online, tudo se veio a transformar numa transparência quase pornográfica. O próprio cinema constrói personagens demasiado fabricadas, catalogadas, sem espaço da indefinição. Assim se facilita a interpretação e se destrói a capacidade crítica. Cada vez mais há absentismo social, não votantes, abandono institucional de sindicatos e associações. Aderir, fazer parte é Fraternidade, é Solidariedade, mas ambas estão doentes. Assim adoeceu a monitorização e a vigilância e a fiscalização. Os reguladores não cumprindo seu papel deixam-nos à mercê de predadores económicos, predadores com sistemas informáticos, donos de data violadora até da liberdade de procurar – eles entregam os desejos servidos por algoritmos que viciam o jogo do livre-arbítrio.
E assim estamos no caldo do obscurantismo pandémico que violou a liberdade de todos para justificar um combate ao sars-cov2.
Mas o Sars-cov 2 não era o armagedon, não era a peste, não dizimou a população aos milhões, se bem que fosse uma doença nova e que condicionava meios só conhecidos antes na poliomielite e na tragédia de Da Nang no Vietname, por razões diferentes. A força empenhada é agora política. A saúde, o serviço nacional de saúde, entregue a dezenas de acólitos do poder, a funcionários dos partidos, tinha de correr mal, porque a sua performance ao longo da vida foi de dependência e de empregos oferecidos mesmo a quem não prestou provas de coisa nenhuma.
Quem não sabia não tinha soluções, não tinha criatividade, não dominava soluções alternativas, não se sujeitava à discussão, à panela de saberes, ao caldo construtor de caminhos de resolução.
A luta foi feita na internet, nas televisões cheias de amigos, de companheiros, de serventuários do poder, sempre sem contraditório, anulando as vozes dissonantes, empurrando para a fogueira e se possível as sevícias de língua todos os que ousassem interrogar.
Eles vêm como aqueles pássaros
Que vêm e passam e tudo o que vêem comem
Eles comem do bom pedaço e bebem bagaço e o suor dum homem
São eles quem carregam o saco pa encher o papo da grande grei
Foram eles que fizeram o traço do último fato que eu usei (Allen Halloween)
As políticas de destruição do SNS tiveram aqui uma prova de força e falharam. Os centros hospitalares e os cuidados continuados e as redes de IPSS demonstraram fragilidades óbvias e descritas por muitos, mas nunca melhoradas. A vaidade de políticos que sem estudos prévios, sem avaliações decidiram sobre as instituições, ficou aqui bem patente. Não sendo uma tragédia homérica assistimos a um pico de mortalidade evidente que sobretudo demonstrou que os idosos aglomerados em instituições morrem mais que os outros, que os estilos de vida não saudáveis colocam mais perigo nas defesas à doença, que os jovens saudáveis passavam pelo sars-cov2 como passeios no Rossio, que os milhares de atletas testados por esse mundo ad nausea, respondiam sem gravidade ao covid 19. Estas verdades não eram boas para o sistema.
Só tu sabes onde vais
Mas não mintas mais (Allen Hallloween)
O respeito pelos que não podemos salvar é o ponto mais importante e aquele que me faz terminar convosco esta exposição.