Serve esta pequena coluna para fazer chegar até Coimbra, retalhos da vida a oriente, alimentando, desta forma, a minha sensação de partilha e a proximidade à cidade do meu coração.
Por entre as inúmeras particularidades e singularidades de um Macau que não se explica, está uma ligação ancestral a Coimbra, a qual contribui para que muitos de nós, aqui decidamos ficar, perpetuando o espírito da cidade que nos formou e conferindo uma sensação de casa, invulgar quando se é expatriado.
“Ser de Coimbra”, como orgulhosamente dizemos, é sermos a família que se une com júbilo a cada motivo de celebração ou de visitas da “terra”, mas também a cada pedido de ajuda e, sobretudo, a cada momento suscetível.
E ontem foi um desses momentos. Um de nós, um dos que todos gostavam e admiravam como excelente profissional, como enorme pai, como amigo que encarava a amizade como puro prazer, partiu, levando consigo um pouco do mundo partilhado pelos muitos que com ele conviveram.
Ontem, juntos, expurgámos a nossa dor, a indignação, os porquês sem resposta e abraçamo-nos, chorámos, rimos, e confortamo-nos, como sempre, recordando Coimbra, a nossa vetusta Universidade e a nossa Faculdade.
Revivemos, pela milésima vez como se da primeira se tratasse, os nossos eternos Mestres, as míticas orais de Direito, a Queima, as histórias e os amigos de uma vida e como tudo isso contribuiu, inelutavelmente, para os adultos que hoje somos, sem nunca perdermos a essência do que realmente importa.
Num presente verdadeiramente desafiante para afetos e emoções, são momentos como este que nos fazem parar, impelindo-nos a um inevitável balanço da vida e das prioridades que a sustentam.
Ainda em plena catarse de emoções, consternação e um acordar mais pobre, fica a certeza que a alegria, o humor com que sempre nos brindaste e tantas memórias de momentos ímpares cá continuarão, a par de um legado invisivelmente poderoso que faz com que a amizade seja o sentimento mais nobre de todos porque dura para sempre!