Desde Epicuro que temos a noção que a maior conquista da felicidade são os amigos. Escrevia ele “de todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade”. E adiantava “não é amigo quem sempre busca a utilidade, nem quem jamais a relaciona com a amizade, porque um trafica para conseguir a recompensa pelo benefício e o outro destrói a confiada esperança para o futuro”.
Vale por dizer que me considero um felizardo, com amigos que tenho desde que me conheço e que sei que o serão para toda a vida, mesmo quando estamos, por vezes anos, sem qualquer contacto. Repouso nessa certeza porque considero que os amigos não são para as ocasiões. Os tempos passados em que diariamente convivíamos selaram uma amizade inquebrável. Por assim ser, tenho poucos amigos, pois seria mesmo impossível ter as experiências que tive com muitas pessoas. Como se costuma dizer, são poucos mas bons.
Depois há aquelas pessoas de quem normalmente gostamos, com quem até convivemos alegremente e que, eventualmente, até podemos um dia sermos amigos. Mas há muita gente que chama de amigo só por chamar, normalmente aquele tipo de pessoa que é o “gajo porreiro”, que conhece toda a gente, que se diz amigo de qualquer um, que cultiva uma amizade ao estilo fast food, a comida mais detestável, mas que muitos não conseguem evitar, pelo menos porque dá jeito na corrida do dia a dia.
Contudo, mais vale ter um inimigo frontal, que um suposto amigo traidor. Traidor porque é o tipo de pessoa que tem a mania que é conciliador, que sempre se cola do lado de quem acha que tem razão, normalmente opinando do alto de uma suposta moralidade para afagar a sua própria consciência, adequando a sua narrativa ao sabor do vento que lhe dá mais jeito em dado momento. Felizmente, repito, tenho amigos que o são na sua plenitude, para mim as melhores pessoas à face da terra, a quem sempre serei leal, para toda a vida, que não são ou deixam de ser amigos conforme os favores que se trocam, pois a amizade não é um negócio, nem um contrato comercial. Não, não é: a amizade não tem planos para o futuro, expectativas, nem frustrações. À amizade basta existir, e é por isso que dura para sempre.