Perdemos a noção do valor da água potável. Somente quando nos deparamos com falta de água nas torneiras, nos poços ou nos furos, nas barragens e noutros locais é que lhe damos valor. Esta conclusão não é minha, está inscrita no “Portal da Água” onde se mostra quão dependentes estamos da disponibilidade da água potável.
Contudo, quando se fala de água a conversa resvala para o seu custo para o consumidor. Pede-se água ainda mais barata, ignorando se tal é razoável e se faz sentido desvalorizar economicamente um bem essencial. Pouco se discute quanto ao impacto das alterações climáticas (seca extrema), segurança do abastecimento e os poluentes emergentes, desde os pesticidas até aos microplásticos.
Gerimos a água como se fosse um recurso infinito, o preço mantém-se estável apesar de termos anos mais secos e outros mais chuvosos. E por isso, desperdiçamos enquanto sociedade muita água, cada um consome em média 180 litros por dia.
A questão desta semana é despoletada pelas recentes (março2021 ) roturas de condutas de abastecimento de água ao sul do concelho que tiveram um efeito imediato de ameaça ao normal funcionamento do Hospital e da Indústria. Obrigados a usar reservatórios as autoridades devem agora interrogar-se sobre alternativas ao abastecimento a sul. A autonomia terá custos elevados, captar e tratar água são atividades de escala com necessidade de investimento.
E surgem muitas questões, entre elas: a água do braço sul do Mondego terá qualidade para consumo humano, após tratamento? Segundo vários relatórios o Estuário do Mondego está eutrofizado (poluído), desde os lixiviados dos arrozais, onde são usados pesticidas, até às descargas de várias atividades. Contar só com furos, ignorando estratégias de racionalização e armazenamento de água, não resolverá o problema, agravando a situação dos aquíferos a sul do Mondego. Urge montar uma estratégia a longo prazo que valorize a água e proteja o rio Mondego.
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