Opinião: Do tamanho dos sonhos

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Temos uma cronologia e uma geografia que nos habita e que nós habitamos. Um tempo e um lugar que percorremos entre o provisório e o eterno. Somos e estamos.
O problema é que muitas vezes somos e estamos sem existir nem habitar. Simplesmente deixamos ir, como uma bicicleta numa descida. Uma questão de balanço, enquanto dá ou, pior ainda, até dar.
Corremos o enorme risco de vivermos com o depósito na reserva, entre medos e inseguranças, entre dúvidas e correrias. Os quilómetros passam e o depósito vai cada vez mais vazio. Sabemos que é preciso abastecer, mas como e onde?
Podemos cair na tentação de conduzir a vida com os olhos presos no retrovisor (Tolentino Mendonça), presos ao passado, a idealismos e a perfecionismos. Era tão bom ‘quando’… ou até ‘se’.
Mas há um hoje e um agora que reclama vida e entrega. Afinal que vida vivo? Que vida dou? A quem dou o melhor de mim?
Só podemos dar o que temos dentro? A qualidade e a densidade que nos habita determina o caminho que percorremos e, sobretudo, o prazer com que vivemos.
Por isso é que tenho para mim que quem fica a perder são os egoístas, os conflituosos, os mesquinhos, os medricas, os arrogantes, os solipsistas. Tão pobres que só conseguem ficar à volta de si mesmos e das suas ideias. Tão pobres que precisam de atacar os outros e de passar o tempo a falar deles porque lhe falta vida própria.
Que vida trazemos dentro? Que sonhos transportamos no coração? Sem sonho não se faz a vida, tudo perde cor e alegria. Sem sonho os dias (apenas) se sucedem.
As grandes conquistas começam nos pequenos sonhos. “O sonho comanda a vida” – dizia António Gedeão na Pedra Filosofal, concluindo que “sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança”. Quanto mundo por pular e quanto mundo por avançar… simplesmente porque não sonhamos!
Somos do tamanho dos nossos sonhos. Não é de altura que falamos, mas de alcance do olhar. Ver para além do imediato é ter o olhar de Deus.
Talvez por isso Vitor Hugo n’Os miseráveis dizia que “mais facilmente se julgaria um homem segundo os seus sonhos do que segundo os seus pensamentos”.
Sonhar um mundo melhor e uma cidade melhor é comprometer-se serenamente na construção quotidiana de relações fraternas e honestas, verdadeiras e cúmplices, humildes e exigentes.
Quando ‘o homem sonha’ o que ‘Deus quer’ a ‘obras nasce’ (cf. Fernando Pessoa, na ‘Mensagem’ – O Infante).

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