Sabemos todos que os mais velhos, tem sido as principais vítimas da covid-19. Temos vindo a revisitar o flagelo dos lares ilegais e a recordar a falta de meios dos legais. Mas se os idosos sofrem os efeitos diretos do vírus, são os jovens que tem apanhado silenciosamente com os danos colaterais com aumento dos sintomas de ansiedade e de depressão, além do desemprego!
A OCDE publicou em junho o relatório “Youth and Covid-19: Response, recovery and resilience” sobre os custos para a educação, emprego jovem, saúde mental e rendimento dos mais jovens e logo, na segunda página alerta para a necessidade de “alinhar as respostas de emergência de curto prazo com investimentos em objetivos de longo prazo para assegurar o bem estar das gerações futuras”.
Começa nos mais pequenos, vítimas do encerramento de creches, jardins de infância e do ensino básico. Estes espaços são fundamentais para as competências das crianças, sobretudo as de famílias mais desfavorecidas, que não têm em casa o ambiente estimulante das restantes, devido à pobreza habitacional, digital e energética, às baixas qualificações das famílias e à má cobertura da rede de internet pelo país, além do elevado preço da própria internet.
Adolescentes isolados no quarto, muito tempo em frente aos ecrãs e pais tensos, em teletrabalho e sem disponibilidade para dar a atenção necessária. Ser adolescente é um desafio enorme para todos, um desafio que a doença COVID-19 torna ainda mais exigente!
Enquanto modelos de medidas preventivas, os cuidadores precisam de ter atenção a sinais de irritação, humor deprimido e lutar contra o isolamento. É necessário desafiar as crianças e jovens a implementarem em conjunto rotinas saudáveis, incluindo horas de sono ajustadas à etapa de desenvolvimento, refeições variadas e completas, hidratação, tempo de ecrãs, atividade física em conjunto, não esquecendo o contato com outros amigos criando-se “bolhas” preventivas.
Deve existir também tempo para a exposição solar, tempo de estudo, tempo a sós (particularmente nos adolescentes) e com o agregado familiar, envolvimento nas tarefas domésticas e manutenção dos contactos sociais possíveis e em segurança com a rede de suporte, grupo de pares, família alargada, entre outros.
Mas o que falta a estes jovens? Perspetivas de futuro, para começar. Entrar no mercado de trabalho numa recessão tem consequências nos salários durante pelo menos uma década. Os jovens trabalhadores têm empregos menos estáveis. Portugal é o segundo país da UE, depois de Espanha, onde o risco de desemprego jovem atingiu os níveis mais elevados em 2020. Mas também lhes faltam perspetivas de presente. O imaginário do confinamento assenta numa família nuclear ou alargada, em que os afetos e a própria vida sexual das pessoas se encontram no domicílio. Acontece que os jovens adultos não vivem assim. E não são menos do que nós.
Os jovens estão naturalmente ávidos de partilha. Terão que saber encontrar formas motivadoras de convívio social, com respeito pelas medidas preventivas da Covid-19. Mas é importante que se perceba que este tempo não é compatível com isolamentos prolongados, porque as suas consequências poderão ser bem mais complexas. Tenho a convicção de que se lhes soubermos dar os sinais certos de esperança, eles responderão com comportamentos sociais adequados.
Apesar do impacto da pandemia na saúde mental dos jovens, a aprendizagem diante das adversidades próprias de uma pandemia desta natureza e a aposta no emprego jovem qualificado pode ser uma oportunidade para se construir um país melhor.