No passado mês de março, a edição online do semanário Expresso, deu à estampa uma notícia oriunda da Agência Lusa intitulada “Degelo no Ártico abre oportunidade para criar nova rota comercial marítima”. Li e tornei a ler o título na esperança de ter de agendar, definitivamente, a tal consulta de oftalmologia. Mas não. Não fui traído pela visão, o título é mesmo aquele. O conteúdo, esse, vai dando “uma no cravo, outra na ferradura”.
O texto tanto refere que o Ártico é um tipping point derivado das alterações climáticas, como refere que o contínuo degelo, decorrente das alterações climáticas, pode ser uma oportunidade para a exploração de recursos naturais por parte dos países com assento no Conselho do Ártico, bem como para a alteração das rotas marítimas, o que “revolucionaria os transportes globais”, dado que encurtaria o tempo de travessia entre a Ásia e a Europa em cerca de 14 dias.
Para “dourar a pílula” da oportunidade menciona-se que para a rota ser sustentável é necessário “descarbonizar o transporte marítimo”.
De facto, é necessário descarbonizar o transporte marítimo e, alguns testes têm sido efetuados pela empresa norueguesa TECO 2030, que irá construir uma fábrica de células a hidrogénio, com uma tecnologia especificamente desenvolvida para embarcações elétricas de grandes dimensões.
SIM, precisamos de navios que deixem de ser uma fonte significativa de emissões de gases com efeito de estufa, mas NÃO precisamos, nem queremos que as empresas de transporte marítimo estejam a ver as alterações climáticas e, consequentemente, o degelo do Ártico como uma oportunidade para reduzir custos financeiros, criando uma nova rota comercial pelo Ártico.
Esperemos que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a realizar em novembro de 2021 (COP26 ), faça avançar o processo de ação climática, assegurando que todos os países se comprometem a ser neutros em carbono o mais rápido possível. Garantindo-se assim que a “promissora” rota do Ártico seja um sonho irrealizável e que os recursos naturais do subsolo do Ártico continuem praticamente inexplorados e que sejam mesmo abandonadas algumas das explorações, como aconteceu com a mina de carvão da cidade russa de Pyramiden, abandonada nos anos 90 do século passado e que hoje é um popular destino de turismo sustentável.