Fez esta semana 10 anos que José Sócrates comunicou ao país que Portugal precisava de assistência financeira. Ele formulou esse pedido à Comissão Europeia e acordou com a troika as medidas que tínhamos de cumprir para evitar a bancarrota. Foi depois Passos Coelho, num governo de coligação com o CDS-PP, que teve de cumprir esse acordo, ponto por ponto, senão o financiamento tornar-se-ia insuportável.
A narrativa desses anos é extraordinária! O caminho seguido até à queda de Sócrates foi “apagado”, desresponsabilizado pelos factores externos, o que revela que estamos prontos a cometer os mesmos erros, confiantes que, se calhar, não teria sido mesmo necessário o ajustamento. No fim, a culpa foi do Passos e não do Bloco de Esquerda que fez cair o governo, a mesma esquerda “radical” que António Costa e o Partido Socialista incluíram na geringonça, depois da saída limpa e um país transformado, a ter a noção da imperiosa necessidade de ter contas equilibradas.
Também um país reformado. Foram feitas muitas reformas, desde a lei das rendas ao mundo do trabalho. Reformas que terminaram desde que a geringonça ascendeu ao poder. Durante esse período foi finalmente interiorizada a ideia da premente necessidade de termos contas públicas equilibradas. As empresas apostaram mais na exportação e na exposição ao mundo global, arriscando apesar das dificuldades de capitalização. Também a Europa, nomeadamente o BCE, mudou, tal como os bancos portugueses.
Contudo, muita coisa parece esquecida, ou pelo menos “tapada” pela pandemia, o novo factor externo que nos leva a viver conjunturalmente e “à boleia” de juros baixos, bazucas comunitárias e planos de recuperação e resiliência nelas ancorados. É uma nova forma de fazer face a uma dívida pública sempre a crescer e que, lá está, um dia vai ter de ser paga com o dinheiro dos portugueses quando faltar o financiamento, que é o mesmo que dizer a capacidade de endividamento. Seria por isso importante não deixar aumentar a conta e retomar reformas abandonadas antes que a realidade pós pandémica nos traga uma dureza como nunca antes vista.