Gosto de dizer que vivo na Estrada Nacional 111. Faz-me pensar na sua história. Dá-me uma sensação nostálgica do caminho domingueiro percorrido pelos conimbricenses que os levava até à “sua praia” e, no caminho, lhe dava o cheirinho dos pastéis de Tentúgal. Era também o cheiro a mar que se fazia sentir muito antes de estarmos próximos da Figueira. Mas não se trata, de todo, de qualquer escrita saudosista, trata-se da constatação da falta de investimento nesta estrada tão simbólica.
Por isso, afirmo que a Estrada Nacional 111 merecia outro destino, outro investimento, outra atenção. Do piso estragado à péssima gestão de tráfego, percebe-se como os municípios nem sequer se preocupam com a passagem diária de muitos automobilistas numa estrada que não tem muita antiguidade, mas que serve um conjunto de populações e é eixo fundamental que liga duas grandes cidades, Coimbra e Figueira da Foz.
Talvez isso seja reflexo de um entendimento desajustado do desenvolvimento local. A começar por uma política que devia facilitar a melhoria da vida das pessoas. Para todos os que trabalham, ora na Figueira, ora em Coimbra e vivem no eixo que liga das duas cidades sabemos as dificuldades que enfrentam diariamente. Piso em péssimo estado, em alguns casos visível a olho nu. Tenho ouvido, recentemente, que a responsabilidade não é camarária. Mas se não é, não se poderia fazer pressão para a melhoria?
Mas o que desespera qualquer automobilista que passe pela Nacional 111 é a péssima gestão de tráfego a que está sujeita. Uma sucessão interminável de semáforos com o devido limite de velocidade. Claro está que os limites de velocidade são para serem cumpridos, mas não seria possível usar um sistema inteligente que não nos levasse ao desespero numa viagem Coimbra-Figueira? Creio que sim.
Para além dos que fazem esta estrada por questões profissionais, há a questão do investimento que deveria ser feito tendo em conta o muito turismo que se aventura a visitar o Baixo Mondego. Falo do turismo que os locais continuam a fazer no seu passeio domingueiro e no turismo que outros, mais distantes, têm vindo a fazer. Não favorece nada a imagem de ambos os concelhos o estado deplorável em que se encontra o piso da Nacional 111. Do mesmo modo, é entediante e quase cómico a forma depravada como a polícia se posiciona de forma oculta de modo a apanhar os mais arrojados na condução. É caso para perguntar que motivação tem um turista local ou nacional para ir a Tentúgal ou à Figueira demorar duas horas para fazer o percurso e ainda apanhar uma multa? É claro que os limites devem ser cumpridos, mas porque o turismo faz falta, não seria melhor ações preventivas e de esclarecimento e não se esconderem atrás de uma moita para apanhar desprevenido quem passa?
Não falo sequer de quem por aqui vive e tem as suas casas com imensas fissuras com a passagem dos camiões. Não falo da forma como a Nacional 111 foi mutilada nas suas árvores que a tornavam tão acolhedora, poiso para a passarada e sombra boa no Verão, cor que alegrava a viagem na Primavera e no Outono.
Merecia outro destino e não o feio que lhe destinaram, isso tenho a certeza. A Estrada Nacional 111 será sempre a minha residência.