Há uma irremediável desilusão no envelhecimento das coisas, das instituições e das pessoas. Mas muito triste é mesmo uma instituição gasta, gerida por gente que nela viu a erosão, a degradação do tempo e a falta de arranjo. Um espaço onde cai a maçaneta da porta, onde a zona de sujos se confunde com os limpos, onde a janela range, a porta fecha mal e as mesas balançam. Um lugar de remendos, onde passa gente mal fardada, desmazeladamente trajada, utensílios avós a servir tarefas violentas, onde as pessoas convivem com as infiltrações, os lavabos partidos, os quartos caducos, as camas irregulares. Tudo isto acarreta uma violência enorme a quem por ali resiste durante vinte anos e depois, num repente se entrega e não luta mais. Esse é o tipo de Hospital que devia fechar para dar reforma à saúde, e a mobilidade dos seus quadros, para dispersar o azedume, e descobrir um novo fôlego. Há muito disto em Portugal e o seu fim anuncia-se, bem como o de muitas outras coisas. Estamos a diminuir depois da máxima dádiva. É o tempo de fechar as favelas. É tempo de mudar más condutas. Para haver dinheiro também carece de haver poupanças.
Dedico este texto a todos aqueles que em casa são poupados, comedidos, cuidadosos. Dedico este artigo aos que não desperdiçam, cuidam da luz fechada, da gota que insiste em pingar, que guardam os pratos fendidos, que comem o pão já seco, que fazem açorda, que cuidam do amanhã, quando a falta vier recordar os desperdícios. Isto vem a propósito das mesmas pessoas que em lugares do Estado tudo desperdiçam e desbaratam. A unidade de medida do hospital é “às mãos cheias”, às “litradas”. Quero uma taça de desinfectante vem cheia, quero uma compressa – vêm trinta, quero um lençol – sujo quatro. É à molhada, às paletes, resmas de etiquetas, de papel em branco nos processos, de envelopes para rascunhos. Aqui não há quilos, nunca é um metro ou polegada. Nas instituições públicas a unidade de medida é o granel, a mãozada, o balde cheio, ou mesmo o molho, o fardo para quem carrega. Nunca viste como se gastam os materiais entre os que saem sem licença e os que se deitam fora ainda bons? Está caduca a casa, mas para se erguer precisa de todos, também dos que consomem, dos que fazem a manutenção, dos que poupam.
Isto tem soluções, mas tardam em chegar.