Opinião: Qual o sentido da Semana Santa

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Estamos na Semana Santa, um tempo diferente e muito importante para os cristãos. Trata-se de acompanhar as últimas horas de uma pessoa, ‘estar ao lado de’, inserirmo-nos numa história maior do que nós que nos antecede, nos convoca e nos provoca.
Nesta semana os cristãos ‘unem-se’ a Yeshua (Jesus) na alegria da sua entrada em Jerusalém (Domingo de Ramos), sentam-se à mesa com ele na ‘Última Ceia’ (Quinta Feira Santa), acompanham a sua dor e o peso da cruz no caminho até ao Calvário (Sexta Feira Santa), ficam em silêncio diante da sua morte (Sábado Santo) e celebram a alegria da ressurreição de uma vida que não acaba nunca (Domingo de Páscoa).
O desafio que a liturgia desta semana nos lança é duplo: ligar a nossa vida à vida de Jesus e a vida de Jesus à vida de tantos homens e mulheres neste mundo. Quanto sofrimento, quanta dor, quanta solidão, quanta cruz, quanta morte… mas também é preciso aprender a celebrar a alegria, as refeições, a esperança, a ressurreição.
O que mais admiro no cristianismo, sério e profundo, é a referência última de cada horizonte: a quaresma encaminha-se para a Páscoa, a morte para a ressurreição, a cruz para a glória, a tristeza para a alegria, o inverno para a primavera… Por isso, é que faz sentido celebrar todos os anos a Páscoa na proximidade da primeira lua cheia da primavera!
Contudo, ainda há muitos cristãos que não ‘entraram’ nesta lógica da Semana Santa. Há muitas pessoas que vivem a vida apenas pelo lado da tristeza, da morte, do sacrifício, da sexta-feira-santa. Claro que tudo isso faz parte da vida, mas é preciso um olhar mais escatológico, mais alargado, mais coerente com o evangelho e com a ressurreição.
O Papa Francisco, longo no início do seu pontificado, disse que era preciso ter cuidado com os ‘pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre’ (EG 85 ). Insistindo que os cristãos não podem andar com ‘cara de funeral’ (EG 10 ). Duas caras que não são cristãs: ‘cara de vinagre’ e ‘cara de funeral’.
De facto, o específico do cristianismo não está na morte, mas na ressurreição. Aliás todo o evangelho é escrito numa lógica de elevação e de superação.
Na bíblia aparecem essencialmente dois termos gregos para referir ‘ressurreição’: anástasis e egueiro – que significam essencialmente ‘elevar-se’, ‘erguer-se’, ‘despertar’, ‘pôr de pé’. A estas expressões podíamos juntar expressões como ‘talitakum’ e ‘levanta-te e anda’, acontecimentos como a transfiguração e a ascensão, locais de elevados como o Monte das Bem-Aventuranças, do Tabor, do Sinai ou Horeb.
Cada pessoa e cada sociedade devia aprender esta lógica de elevação: palavras e gestos que levantem, que elevem, que transfigurem, que façam nascer do alto, que ressuscitem.
O sentido contrário é ‘desvangelho’, é inveja relacional, é pequenez mental, é pobreza de espírito… São outras lógicas e são outros modos de estar na vida. Eu diria inúteis, inconsequentes e falsamente poderosos.v

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