Um dos desafios ambientais de maior urgência é o de potenciar, geometricamente, o empenhamento dos cidadãos nas atividades de reciclagem e reutilização de materiais.
Educação, formação e publicidade são algumas das estratégias já utilizadas, na promoção e divulgação das boas práticas de reciclagem e reutilização de materiais. Apesar dos grandes avanços, resultantes dessas estratégias, ainda existe grande margem de manobra para o envolvimento dos cidadãos nesta matéria. É aqui que se coloca o conceito de ludificação ou “gamificação” – do inglês gamification, termo utilizado pela primeira vez por Nick Pelling, em 2003, e que significa transformar atividades em algo semelhante a jogos para as tornar mais agradáveis ou interessantes.
A ludificação consiste, assim, na utilização de técnicas e estratégias baseadas na arquitetura de jogos lúdicos com o propósito de motivar os cidadãos para uma atividade. Nesta estratégia vários elementos característicos de um jogo, como um sistema de pontuação e a competição saudável, podem ser usados para atrair os cidadãos a um determinado objetivo comum, fornecendo incentivos à realização de uma tarefa, tirando vantagem dos desejos naturais do ser humano de competição, conquista, altruísmo e colaboração.
O conceito de ludificação também pode ser enquadrado no que se designa por prospetor de praia (beachcomber). Esta figura, é alguém que recolhe resíduos das praias, em particular plásticos e que se torna num colecionador que se interessa pela origem e pela história de alguns objetos que encontra ou que somente pretende contribuir para a limpeza das praias e para o encaminhamento correto desses materiais, reciclando-os ou reutilizando-os.
Sobre esta atividade lúdica que potencia a recolha e reutilização de plásticos encontrados nas praias, existem já, excelentes exemplos internacionais, como o #LegoLostAtSea, ou nacionais como a plataforma lixomarinho.app, projeto desenvolvido na Universidade de Coimbra em parceria com a Associação Portuguesa de Lixo Marinho, ou a arte produzida por XicoGaivota a partir de resíduos plásticos recolhidos nas praias de Sintra, entre outros.
A aplicação do conceito de ludificação, na promoção das atividades de reciclagem de reutilização de materiais é, portanto, uma matéria que deve constituir uma preocupação crescente, a ser promovida por todos os intervenientes na gestão de resíduos e não só por organizações não governamentais, associações ambientais ou grupos de cidadãos organizados informalmente.
Pela minha parte continuarei, em 2021, a ampliar a minha, ainda minúscula, coleção de Plasticus maritimus exoticus (conceito criado pela bióloga Ana Pêgo no livro “Plasticus Maritimos – uma espécie invasora”) iniciada em 2020 e a encaminhar corretamente outros resíduos que vou encontrando nas praias que frequento e que não se enquadram na coleção.
Desafio todos a iniciarem esta atividade lúdica não só nas praias, mas também nas florestas, nas margens e leitos dos rios e nos parques e jardins urbanos. É só vantagens!