Sim ou Não? A margem sul devia ter um cais comercial?
Desde que há memória e registos que remontam ao longínquo século XI que o porto da Figueira luta contra as forças da natureza. Na verdade, este porto construído e consubstanciado ao longo de séculos pela mão do homem, em especial desde o século XIX, conquistou ao estuário o seu direito de existência. Mas é um trabalho contínuo de desassoreamento, de alargamento das bacias de manobras, de prolongamentos dos molhes.
Houve sempre bastante clarividência relativamente a esta difícil e constante disputa com a natureza. Tal como é demonstrado em 1913, quando Baldaque da Silva propôs que o porto de águas profundas, complementar ao de Leixões e ao de Lisboa, fosse construído no Cabo Mondego, a sul da pedra da nau, onde pelas suas estimativas garantiria calados de 18m e uma navegação acessível e segura em qualquer circunstância de mar, em contraponto à situação onde ele estava (e está) localizado. Esta situação, na sua opinião, apresentava pequenas dimensões de bacia útil e de cais, contínuos assoreamentos, pouca profundidade do canal da barra e caudalosas correntes de inverno.
Como todos sabemos, este grande projeto não se chegou a concretizar. Portugal entrou na 1.ª Guerra Mundial e o seu grande mentor, o capitão de mar e guerra e engenheiro hidrográfico acabou por falecer em 1915, permanecendo o porto no estuário do Mondego. Entretanto a cidade desenvolveu-se noutra perspetiva. O Cabo Mondego é hoje património natural de interesse geológico mundial, existindo uma marginal lindíssima que ladeia toda a enseada de Buarcos com um imenso valor turístico e paisagístico.
A indústria que existia no Cabo Mondego acabou por desaparecer, instalando-se novas unidades industriais na margem sul, que se estendem desde o Cabedelo até à Marinha das Ondas.
Ao pensar hoje a cidade, sem considerar toda a sustentabilidade do investimento necessário para esta obra de largos milhões, faz todo o sentido prático que o porto comercial e de mercadorias esteja na margem onde estão as indústrias, complementado necessariamente por uma linha férrea de mercadorias. Libertando, assim, pelo menos uma parte da frente ribeirinha, uma zona tão nobre da cidade.
No entanto, o concelho não termina na cidade. Um projeto que vá nesse sentido terá de salvaguardar que a população residente na margem sul, e todo o património natural, cultural e paisagístico, não sejam negativamente afetados.