Opinião: ““Ex-libris” da Saudade”

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No passado dia 30 de Janeiro celebrou-se o Dia da Saudade. É impossível falar de saudade sem ter no nosso imaginário os trinados profundamente Portugueses que sonorizam esse sentimento tão nosso. Dado a efemeridade, dedico então esta crónica a esse instrumento da Saudade que é a Cithara Lusitanimgensis, vulgo, Guitarra Portuguesa.
A origem da Guitarra Portuguesa não é de forma alguma consensual, havendo várias teorias. As mais frequentes e fundamentadas ligam as suas origens ao tempo da idade média a um instrumento chamado Cítola e, posteriormente, à Cítara Europeia que tinha diversas alterações consoante o país em questão. Durante o séc. XVIII uma versão destas Cítaras ganhou ampla popularidade em Portugal tendo ficado conhecida como Guitarra Inglesa devido ao seu fabrico na Grã-Bretanha. No final deste século, a Guitarra Inglesa era usada como instrumento de sala em substituição dos cravos e das orquestras que se afiguravam caras, tendo ganho particular presença nas famílias de estratos sociais menos elevados. Este “aportuguesamento” afincou-se no séc. XIX quando construtores começaram a adaptar características das existentes violas toeiras e de arames de 12 cordas para a guitarra. A principal transformação foi na cabeça em que as doze cordas foram redistribuídas para seis ordens de cordas duplas e acrescentado cordas de aço aos bordões, adquirindo a especificidade que reconhecemos hoje na Guitarra Portuguesa.
Foi na década de 1920 que Artur Paredes em parceria com os mestre violeiros Raul Simões e Joaquim Grácio começou a diferenciar a Guitarra Portuguesa. Esta nova guitarra de Coimbra possuía um formato mais aguçado e elegante, afinada um tom abaixo tinha uma melodia mais grave e sonante que se mostrava mais apropriada para o toque de rua e de balada. Artur Paredes definiu também uma técnica diferente de tocar, a técnica da “figueta e do dedilho” que privilegiava os acordes ao invés das notas soltas e do trinar. A Guitarra de Coimbra diferencia-se também pelo ornamento da voluta que, em oposição às espirais usadas nos instrumentos clássicos, adoptou uma lágrima, talvez fruto da componente Romântica associada ao Fado.
A Canção de Coimbra adoptou assim mais uma nova vertente, na forma dum novo instrumento com um tocar e reportório característico. Esta guitarra, agora conhecida como Guitarra de Coimbra é um instrumento profundamente Português e alcançou o estatuto de ex-libris obrigatório em todas as reuniões de Saudade.”

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