As Eleições Autárquicas devem ser adiadas?

Apesar de as eleições presidenciais terem decorrido muito bem, em especial o dia do voto, durante o qual foram minimizados os riscos, não se pode comparar esta eleição com a intensidade da campanha das eleições autárquicas. São mais de 3000 freguesias e 300 concelhos e outras tantas campanhas eleitorais.
Nas eleições autárquicas é fundamental uma grande proximidade entre os candidatos e os eleitores, sobretudo num país hipercentralizado onde a comunicação social local tem uma reduzidíssima capacidade de chegar aos munícipes e onde os meios de comunicação nacionais esmagam os locais. Sem essa proximidade, o resultado das eleições decide-se mais pelos rótulos partidários do que pelas propostas ou pelos que estão no poder, penalizando listas alternativas. Para mim, isto é menos democracia.
Podemos argumentar que adiar as eleições é adiar a democracia, mas eu temo que uma campanha com contacto limitado ou sem contacto desvirtuará certamente o resultado que ocorreria na sequência de uma campanha normal, com consequências mais profundas para a democracia.
Não tenho grandes expectativas de que as condições sanitárias possam ter uma melhoria significativa até aos meses de pré-campanha e campanha. Ainda há grandes incertezas sobre o período em que a vacina nos protege da Covid e sobre a abrangência dessa proteção. Sabemos que nos protege dos estados mais avançados da doença, mas ainda não sabemos o suficiente sobre a sua capacidade de reduzir ou de parar a transmissão do vírus no caso de assintomáticos ou de pessoas com sintomas ligeiros.
Por isso, pelo seguro, seria mais avisado adiar as eleições (talvez 6 meses), diminuir a probabilidade de transmissão do vírus, diminuindo os riscos para a população e, sobretudo, permitir que o comércio, as atividades de atendimento direto e a normalidade no trabalho possam ser restabelecidos o mais rapidamente possível.