Atravessamos ainda numa fase de grande incerteza quanto à evolução do trabalho e das relações económicas, nesta realidade instável que a pandemia impôs. Gestores e decisores procuram ajustar as práticas empresarias às mudanças que parecem não ter retorno, entre as quais a digitalização, o e-commerce e o teletrabalho.
Uma realidade é indiscutível: a flexibilidade do trabalho veio para ficar.
Desde o momento em que o telefone e o email migraram da mesa do escritório para o smartphone, tudo mudou. O equilíbrio entre vida pessoal e profissional tornou-se cada vez desafiante e embora a flexibilidade seja apreciada por alguns, outros sentem muitas dificuldades. No entanto, o teletrabalho não é uma novidade para setores como o design e multimédia, e particularmente para muitos freelancers ou profissionais liberais. O que este período trouxe foi a sua generalização e a tomada de consciência geral que o regime poderá ser benéfico em várias profissões, quer para trabalhadores quer para empresas.
Esta “experiência” coletiva traz ainda muitas questões por resolver. Do lado das empresas: a produtividade irregular, segurança da informação, gestão e colaboração entre equipas, entre outras. Do lado do trabalhador os temas passam pela regulamentação, privacidade, pressão psicológica acrescida, gestão do tempo/automotivação e desconexão social.
Agora e para o futuro, existem várias oportunidades para ambas as partes. Para as empresas a chave passa por identificar regimes flexíveis em que cada trabalhador possa estar em equilíbrio, motivado e produtivo. Ter colaboradores remotos expande o campo de recrutamento, mas cria o desafio de construir uma cultura interna integradora, com processos colaborativos e uma gestão de pessoas focada no acompanhamento individual. Este passo permitirá às empresas portuguesas acederem a talento pelo mundo inteiro, quebrando assim umas das limitações à sua expansão.
Para os trabalhadores, a Terra é finalmente “plana” e as fronteiras serão mais ténues para a procura de desafios profissionais internacionais onde possam gerar maior valor com as suas competências individuais. Acredito que regimes que promovam o equilíbrio da vida pessoal se reflitam em maior produtividade nas atividades mais complexas, estimulando a aprendizagem contínua e a criatividade.
E Portugal e a Região Centro como irão posicionar-se?
Um dos desafios que se coloca no curto prazo é a atração de talento: trabalhadores desta renovada economia digital que podem agora escolher onde se querem fixar no mundo. Este é o momento de atrair estes novos “nómadas digitais”, e mostrar que ao invés de um lugar cinzento podem contemplar o mar na Nazaré ou Figueira da Foz; viver em Gouveia ou na Covilhã e usufruir da serra. A região oferece uma diversidade natural alinhada com os que procuram evasão, mas também o charme e a qualidade de vida de Coimbra, Aveiro, Leiria, Fundão, Viseu ou tantas outras cidades. A segurança, infraestrutura tecnológica, a tolerância cultural/religiosa e os valores europeístas, são trunfos que nesta corrida global. É uma “luta” que podemos e devemos travar com inteligência: reduzindo barreiras, simplificando processos e reposicionado a mensagem de um país não só bom para turistas, mas também de portas abertas aos trabalhadores digitais.
1 dia é bom, 2 é ótimo, 3 nunca é demais! é o famoso slogan do Turismo do Centro que podemos recriar para algo como: Visitar é bom, Trabalhar é ótimo, Viver é excelente!
O teletrabalho está aí. Como vamos posicionar-nos?