Que significa a Presidência portuguesa do Conselho da Europa para o cidadão comum, isto é, para cada um de nós? Podemos temer que, nas angustiantes circunstâncias presentes, onde o contágio ameaça a nossa saúde e o nosso futuro, esta alta responsabilidade política assumida pelo Governo deixe indiferente muitos dos nossos concidadãos. Mas não acontecerá a mesma coisa com a cultura e com todas as atividades que, não sendo vitais, parecem poder ser descuradas ou, pelo menos, adiadas sem grande prejuízo? Sejamos sinceros. Europa, Cultura: quem, fora do círculo restrito dos happy few, se disporia a dar um pouco da sua vida, e mesmo do seu tempo, a estas nobres ideias tão afastadas das preocupações quotidianas e práticas da maior parte de nós?
Alguma reflexão levar-nos-ia, contudo, a encarar as coisas de outro modo. Quer queiramos quer não, a Europa é o nosso futuro como foi já o nosso passado. A crise sanitária não terá solução fora da solidariedade europeia e a atividade económica só no quadro europeu poderá ser retomada. Porque a Europa é a nossa casa comum, indissociável da prosperidade material e dos benefícios da democracia. Sem dúvida, podemos ignorar a Europa, fazer como se ela não existisse, como podemos também conceder uma importância quase nula à Cultura. Mas são elas, a Europa e a Cultura, que sustentam a nossa existência como o ar que respiramos. E é em momentos trágicos em que o oxigénio nos falta que damos o devido valor a esse elemento invisível em que vivemos e nos movemos.
O Grupo de trabalho responsável pela preparação da candidatura de Coimbra ao título de Capital Europeia da Cultura 2027, muito consciente das dificuldades materiais e morais que afrontamos, sabe como é urgente reanimar o sonho europeu nos espíritos e, mais ainda, nos corações.
A Presidência Portuguesa do Conselho Europeu não é para nós uma abstração política: é uma oportunidade a agarrar, aqui e agora! Coimbra não tem de provar a sua vocação europeia, que não cessou de afirmar ao longo dos séculos e continua hoje bem presente e visível. Mas se a nossa cidade aspira legitimamente a representar a cultura europeia, com todos os benefícios concretos qui daí resultarão, ela deve primeiro mostrar quanto a Europa cultural nela se reconhece.
Foi este o propósito que nos levou, em estreita ligação com a Câmara Municipal, a conceber para o primeiro semestre 2021 uma programação cultural excecional onde, com o apoio entusiasta das respetivas Embaixadas, ouviremos, no palco do Convento São Francisco, as vozes de cada um dos países membros da União Europeia. Espelho da diversidade cultural da Europa e prefiguração do ano 2027, este vasto e tão rico conjunto de espetáculos tornará sensível a todos a realização de um projeto tido como quimérico. Como infelizmente mostrou a história do século XX, não se nega a cultura sem pôr em perigo a liberdade e a própria vida. Este Semestre Europeu em Coimbra quer ser um hino à liberdade, à energia criativa e à Europa da Cultura.