Há uns anos fui surpreendido por uma vertente coleccionista incomum, pelo menos para mim na altura. Numa saída ao terreno, na Ria de Aveiro, uma colega ficou entusiasmada com um sofá em nenhures. Era “coleccionadora” de sofás abandonados. Em rigor, coleccionava fotografias de sofás largados nas situações mais incomuns e anacrónicas. Tomei então consciência desse sub-grupo de lixo “deitado” no campo. Nunca tinha reparado, era mais comum do que pensava. Tentei, diga-se, copiar a colecção mas com menos disciplina.
O que leva um sofá a dar estas voltas no fim da sua vida útil? É uma pergunta que me assalta sempre que os encontro pelos caminhos. Alguém decide trocar o seu sofá, ou desfazer-se. Dá-se ao trabalho de o tirar de casa, pô-lo num carro, fazer uns quilómetros, parar o carro, tirá-lo do carro, fazer mais uma estirada a pé (nem sempre estão em sítios acedidos por viaturas) e abandoná-lo num terreno qualquer.
O sofá serve apenas de exemplo, acontece o mesmo com fogões, frigoríficos, máquinas de lavar, etc., etc.
Ora tanto trabalho para fazer algo que é ilegal, deposição de resíduos. Tanto trabalho para se sujeitar a uma coima.
E porque me surpreende? Porque a recolha de sofás (e tudo o resto) é assegurada pelas autarquias. De graça! É só marcar com os respectivos serviços o dia e o local e depositar o sofá onde combinado.
Portanto há quem tenha trabalho, quem despenda esforço, para fazer uma ilegalidade, para se sujeitar uma coima, estragando a paisagem e o ambiente. Quando, por uma fracção desse esforço (trazer o sofá para a rua) e gratuitamente actuava dentro da lei, sem se sujeitar a coimas e sem estragar a paisagem para todos.
É um dos casos em que fazer o que é legal sai mais barato e é mais simples do que fazer o que é ilegal. Será que é por falta de conhecimento?
Fica aqui um contributo para Coimbra: “A recolha de resíduos volumosos (monos ou monstros), de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos e de resíduos verdes é efetuada pela Divisão de Ambiente, mediante agendamento prévio, através do telefone 239802070, de 2.ª a 6.ª feira, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30”.
Era bom que a “colecção de sofás abandonados” da minha colega chegasse ao fim.