A alegria e satisfação do início da vacinação contra a COVID 19 em Portugal é compreensível e natural, mas o espectáculo dado pelos Média e pelos protagonistas envolvidos, foi em meu entender degradante e um sinal de que Portugal tem ainda muito para evoluir.

O excessivo aparato policial, o acompanhamento ao segundo por parte da comunicação social das carrinhas de transportes rodeadas de batedores das forças de segurança, o local secreto nos arredores de Coimbra onde ficariam armazenadas as vacinas, mas cuja localização já era conhecida por muitos há vários dias, fizeram-me achar por momentos que estávamos longe de uma Europa avançada e moderna e transmitindo uma imagem de uma sociedade que ainda tem muito para evoluir.

Eis que chega então o tão esperado dia… chegou a primeira vacina contra a COVID 19 a Portugal.

Enquanto a Espanha e a Alemanha optaram por escolher simbolicamente um idoso de um lar de terceira idade para ser a primeira pessoa a ser vacinada, Portugal escolheu um Médico Director de Serviço Hospitalar.

Concordando eu que os profissionais de saúde devem estar entre os elementos prioritários no plano de vacinação, entendo que os idosos, particularmente os idosos dos lares, aqueles que mais sofreram com a pandemia, pelas mortes associadas e pelo sofrimento fisico e psicológico a que foram sujeitos, mereciam da parte dos portugueses tal reconhecimento e por isso talvez fosse justo que fossem eles os primeiros no plano nacional de vacinação, tal como o foram em vários países da Europa. Mas não…

Entendeu-se dar protagonismo mediático aos profissionais de saúde, “uma bolacha para pobre comer e calar”, em vez de reconhecer o mérito do seu trabalho da forma mais justa como seria a actualização das carreiras médicas, de enfermagem e de outras classes profissionais, ou recompensa financeira das horas excessivas durante longos períodos do presente ano, ou a contratação de mais profissionais.

Espantoso e surpreendente, ou talvez não, é ver desfilar na primeira  fila para a vacina, muitos Directores de Serviço alguns dos quais já nem contactam praticamente com doentes, ou Especialistas graduados de Especialidades Médicas cujo risco anda muito longe de ser considerado elevado, mas que para a vacinação se apresentaram como de  “primeira linha”.

Que a Ministra tenha estado presente e que presidentes de autarquias tenham estado a seu lado não admira pois este mediatismo popular político é criticado por muitos, mas praticado por todos…. ou não fossem políticos…. Estranhei a ausência de Marcelo Presidente, mas talvez Marcelo Candidato o tenha aconselhado a não ir…

Mas mesmo este triste e degradante espectáculo não estragou a alegria de ver chegar a Portugal a vacina contra a COVID 19, um sinal de esperança que o país tanto precisava.

Como médico com intensa actividade clínica diária, e filho de médico que ainda exerce com actividade clínica mais reduzida, espero ver o meu pai vacinar-se antes de mim, e daria de bom grado o meu lugar na fila aos idosos do meu país, que contribuíram ao longo de uma vida inteira para aquilo que hoje somos.