Opinião: Estar em sintonia

Posted by
Spread the love

Estamos por caminhos diferentes a pensar coisas semelhantes. Viemos de uma série de linhas de pensamento, de percursos distintos, percorremos dificuldades diferentes, enfrentamos soluções únicas e no final chegámos às mesmas certezas e às mesmas dúvidas. Uns viajaram a vida toda, outros viram o lado obscuro da humanidade, outros foram vítimas, alguns venceram nos seus caminhos, mas todos chegados à mesa de Natal traziam histórias e conclusões. Todos com dúvidas sobre conceitos antes límpidos e serenos. Temos incertezas sobre a vida e estamos sintonizados sobre a morte: não estamos com António Costa a dizer que todas as vidas são importantes. Há vidas que já não devem ser vividas, há vidas que não devem ser estendidas.
Ontem a preparar o Natal estávamos vários e simulávamos as votações de Espanha. Nós todos sabíamos que há finais demasiado lentos e dolorosos.
Nós todos tínhamos testemunhado que alguns “fim de vida” carecem de amor na despedida. Não estava nenhum Vox à mesa, não faltavam católicos, havia esquerda e direita e entre todos sabíamos que encarniçar a vida, obrigar o anquilosado, escareado, demenciado, a existir, é um excesso sem sentido. Tínhamos uma longa lista de mortes lentas para contar, de impedimentos inaceitáveis da partida. Havia os que eram operados dez dias antes do falecimento, os que faziam inúmeros exames no mês do enterro, os que faziam as últimas sessões de quimioterapia na manhã da morte, ou a diálise para conforto dos familiares.
Ontem estávamos em sintonia sobre a eutanásia e sobre o impedimento da doença maior da medicina – o encarniçamento terapêutico. A coerência obriga a apostar na vida, a insistir em vidas saudáveis, em penalização dos excessos alimentares, dos exageros vendidos em garrafa ou pacote que transportam milhares de calorias, de quantidades insanas de sal. A prevenção como serviço nacional de saúde, como método de emergência, como obrigatoriedade do Estado para ter mais e melhor vida, menos sistema de saúde para tratar doenças. Reparem como após milhares de testes de covid realizados a gente sã que joga profissionalmente qualquer desporto, mesmo com muitos positivos, não houve internados, nem gravemente doentes – concluam alguma coisa!

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.