É preciso criar incentivos locais para a fixação de médicos no concelho?
O mundo dos médicos em Portugal é intrincado. Temos muitos médicos ( 45.000 ) mas poucos a trabalhar no Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Não há falta de médicos no país. Há falta de médicos é no SNS”, afirma quem sabe. Adicionalmente, sabemos que os médicos se concentram nas grandes cidades, e daí termos falta de médicos de família na Figueira da Foz.
Pessoalmente sinto essa falta, o meu médico de família reformou-se, na Unidade de Saúde Familiar de Buarcos (USF), e fiquei sem médico de família. Há seis meses que não sei a quem me dirigir se precisar de fazer exames ou ficar doente. Na minha ficha do SNS online não consta o “nome do médico”, o espaço está vazio. Haverá centenas ou milhares de pessoas na mesma situação que eu.
Respondendo diretamente à pergunta desta semana, atrair médicos e fixá-los na Figueira da Foz exige criatividade. Isto porque não é o dinheiro que atrai os médicos. Os incentivos do Estado para fixar médicos em zonas carenciadas, desde 2015, são generosos: aumento de 40% na remuneração base, o que significa mais 36 mil euros ao fim de três anos de contrato, mais dois dias de férias por ano. Mas nem assim os médicos se instalam em zonas periféricas. Uma das soluções de curto prazo passará por adotar médicos estrangeiros que já estejam em Portugal à espera de equivalência. Há médicos a exercer outras profissões porque esperam muito tempo até poder exercer medicina. Se entretanto tiverem condições (alojamento; ocupação temporária; ajuda à família) na Figueira, talvez seja possível ter aqui mais pessoal clínico. A médio prazo a Figueira deveria dar mais protagonismo social à medicina em geral, e aos profissionais de saúde que trabalham no SNS, cujos sacríficos passam despercebidos à comunidade. Distinguir os profissionais empenhados, reconhecendo-os localmente, contribuiria para que o concelho tivesse mais visibilidade no âmbito dos serviços de saúde e assim chamasse a atenção de jovens médicos.