Concorda com a reposição das freguesias extintas em 2012?
Havendo dois tipos de exercício do poder (um orientado para a real satisfação das necessidades das pessoas, e o outro sobretudo vocacionado para a satisfação das expectativas dos eleitores), não deixa de ser para mim surpreendente como é mais fácil e eleitoralmente vantajoso o segundo, como percebemos bem no concelho da Figueira na última década.
Exemplo paradigmático de uma atuação demagógica, eleitoralista e claramente desprovida de sentido de Estado é a forma como o Partido Socialista, aos níveis local e nacional, se tem orientado no que diz respeito à “questão das freguesias”.
De facto, é sempre conveniente recordar que as Leis de reorganização administrativa tiveram como pano de fundo, mais uma vez, uma trágica governação socialista, que levou, pela terceira vez em 40 anos, aos Memorandos de Entendimento com a “troika”, os quais determinaram a austeridade, que na realidade nunca desapareceu, e uma reforma administrativa, que podia e devia ter sido aproveitada para repensar toda a organização administrativa dos concelhos.
Como já escrevi em março último, na Figueira, tanto há 10 anos como agora, não é honesto nem sustentável haver qualquer outra preocupação que não seja a de nos constituirmos como efetivo e coeso poder político, dotado de condições, recursos e força para voltarmos a ter um desígnio, um caminho e uma estratégia, que proporcionem uma fruição sustentável do território para quem cá vive e trabalha e para quem nos visite.
Assim, o que mudou, entretanto? À boa maneira socialista, uma notícia de jornal que refere que, até março, haverá “uma proposta de lei (…) que aprova apenas os critérios gerais e abstratos de criação e extinção de freguesia, que, por si só, não cria nem extingue nenhuma”…
Defendo um Poder Local baseado nos princípios constitucionais da descentralização e da autonomia, mas temo que, uma vez mais, o Eça tenha razão: “País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?“.