Opinião: À Mesa com Portugal

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Não tenho dúvida de que este Inverno irá mudar as nossas vidas. Não me parece que tudo vá passar com o mesmo conforto que tivemos na primeira fase. Nem as pessoas querem deixar de viver, nem as pessoas podem deixar de viver. Seremos um país do “faz de conta” pronto a rebentar pelas costuras se continuarmos a acreditar que o peso que estamos a exercer nas contas públicas é apenas um debate na Assembleia da República onde o argumento ideológico e partidário vale mais do que a vida real.

Gostava de ver os partidos unidos pelo país, se tanto afirmam sentido de Estado e responsabilidade perante os eleitores gostava de os ver a trabalhar num plano que não deixe afundar Portugal. Proibir e fiscalizar até pode ter resultados práticos em algumas situações, pois o povo português é manso e acata as ordens, mas não traz felicidade e é fermento para a desorganização social.

E o país precisa de um plano. Profundo, de base, que interrogue o que temos. Após um Verão que deu para entreter as contas e fazer acreditar que o Outono iria trazer um 2020 sem pandemia, os restaurantes e as pastelarias vivem novo período de sufoco. Não são só as medidas restritivas que obrigam a menor capacidade, a maior despesa com produtos de higiene e desinfeção, é um todo que se gerou pela propaganda do medo e que, naturalmente, leva a uma menor frequência destes espaços.

Se houve setor que se soube adaptar à mudança e à necessidade de controlar os riscos, foi a restauração. Alguns até foram além e seguiram o excesso de zelo, pois que se é necessário garantir que os clientes estão seguros, também é importante que os colaboradores fiquem resguardados. Mas a saúde financeira deste setor é débil e enferma de muitos problemas traduzidos na enorme sobrecarga de taxas, taxinhas e taxetas que sufocam quem dá o seu melhor todos os dias. E é aqui que eu pergunto: o que se está a fazer pela restauração nacional? E o que se podia fazer?

Podemos perceber quais são os custos fixos que cada espaço de restauração tem? Para além daqueles impostos que gritam como a TSU e o IVA, temos outros que são silenciosos e que asfixiam. São de montante pequeno, mas fragilizam e deixam os proprietários à beira de um ataque de nervos. Parece que os impostos, dos grandes aos pequenos, são uma matilha de cães a morder em mais um bocado da roupa do infeliz do proprietário e chegam à canela.

Será que não se poderia verificar o peso de todos os impostos que caem sobre os restaurantes e pastelarias? Será que não deveríamos aproveitar a atual situação para rever esse peso e, em algumas situações, perceber a que podem os restaurantes e pastelarias ser poupados?

Medidas como o IVaucher podem parecer refletir o esforço do Governo Português em ajudar um setor que nitidamente vive dias difíceis, mas, sinceramente, quando li sobre o assunto pensei que os autores da proposta devem ter ido buscar inspiração aos talões de desconto das grandes superfícies.

Promove-se o consumo, quanto mais comprar mais poupa, é a frase. A questão é que os restaurantes e pastelarias têm problemas que não se resolvem com estas medidas, precisavam sim de uma revisão de todo o esforço contributivo a que estão sujeitos. O que sugerem não é política estrutural, é somente maquilhagem para levar as pessoas a pensarem que está tudo bem. Não, não está.

O problema mantém-se e o sufoco também. E, enquanto isso, continuam os nossos deputados a trocar piropos entre bancadas sem a garantia de, que no final, tudo acabe numa qualquer pastelaria ou restaurante com croquetes e bolos de bacalhau. Pois é, fechou o restaurante e a pastelaria também.

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