Guerra, inundações, fogos, terramotos, doenças, violência, racismo, fome, desemprego… Há muitos dramas no mundo e há muitas pessoas que passam muito mal.
Há grandes ‘infernos’ cá na terra! Basta pensar nos que morrem a atravessar o mediterrâneo, os que se encontram em campos de refugiados, os que são vítimas de violência (física e psicológica), as vítimas de tráfico humano, os que se sentem abandonados nos hospitais, os que morrem sem assistência e sozinhos…
Mas temos que considerar que o mundo não é feito apenas de uma cor e que, ao lado de todos estes infernos, há um imenso céu que precisamos de ‘descobrir’ e com o qual precisamos de nos comprometer. Não se trata de uma proposta de fuga ou de ‘meninos de bem’, mas um caminho de re-leitura que não ignore o tanto bem acontecido e a acontecer.
Quanta entrega em tantos voluntariados, quanto serviço prestado pelas ONG(D), quanta competência e carinho de muitos profissionais nos lares e nos hospitais, quantos criadores de emprego, quanto semeadores de sombras, quanto futuro lançado na terra e quanta esperança em cada amanhecer.
Há um céu por descobrir na terra. Mas essa plenitude, essa beleza, essa comunhão, essa entrega… tem que nos comprometer, tem de reclamar o melhor de nós mesmos. Mesmo em cenários difíceis é possível arregaçar as mangas, abrir o coração e pintar a terra da cor esperança.
A pandemia em que estamos mergulhados e o (des)confinamento em que a nossa vida se encontra recria perspetivas e promove transformações do olhar. Mas como podemos fazer isso? Que caminhos devemos percorrer?
Precisamos de reforçar e estimular a nossa inspiração e criatividade. Em vez de passarmos o tempo a queixarmo-nos e a ver o que perdemos ou o que não podemos fazer, é tempo de nos entusiasmarmos com o tanto que há por fazer… e é imensamente mais.
Precisamos de gestos diferentes e diferenciadores. Gestos que contam com a força do testemunho e a grandeza da proximidade, que tocam o coração e alimentam a alma. Gestos que não aguardam os mundos ideais nem se desculpam com as dificuldades presentes.
Precisamos de medir a vida e as ações por outras métricas e perceber a força dos encontros pessoais, de superar as ilusões das multidão e reforçar a métrica do ‘tu-a-tu’. Sem a ditadura dos sucessos rápidos podemos ouvir a força do silêncio e captar o ritmo da natureza. Precisamos de abrir a dureza dos dias à leveza do eterno, onde o corpo e a alma se dizem, o imanente e o transcendente se tocam, a terra e o céu se comungam. O chão que pisamos é apenas um trampolim para tocarmos o céu, cada vez que voltamos a tocar a terra sentimos o impulso de um novo elevar-se.
Muitas são as obras que inscreveram o céu na terra em tempos difíceis, basta recordar o Principezinho, ou os Evangelhos, ou Se isto é um homem do Primo Levi… Mais ainda são as vidas que redesenharam a esperança entre tantas dificuldades como Anne Frank; Etty Hillesum; Nelson Mandela; Maximiliano Kolbe… Este tempo precisa de novos a(u)tores da mesma esperança!