Opinião – Não havia necessidade

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Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, veio a terreiro desabafar que é do Benfica. Disse: “não sou daquela geração de políticos que diz que são todos da Académica. Eu sou do Benfica, pronto. Nunca escondi.” Não havia necessidade, utilizando a famosa expressão do Diácono Remédios.
Não encontrará Fernando Medina outra justificação para ser do Benfica, sem menorizar este clube, afastar-se da geração de políticos a que não pertence, os actuais que são da Académica e sem usar o nome desta instituição que nada lhe deve?
O Benfica é um enorme clube desportivo português que merece o máximo respeito, à semelhança de todos os outros. O respeito é mútuo, e a história confirma-o com vários exemplos. Não há muito tempo, recordo-me de “Toni”, que entre 1968 e 1981 conquistou 12 títulos pelo Benfica, ter reactivado a ficha de sócio da Académica na presença de Mário Campos, sem precisar de se justificar ou esconder.
“Toni” não é político, mas ao contrário de Fernando Medina, é Comendador da Ordem de Mérito, título que visa distinguir actos ou serviços meritórios que revelem abnegação em favor da colectividade, praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas. Curiosamente, foi outro Comendador da mesma Ordem e sócio de mérito da Académica – Mário Wilson – quem o “descobriu”.
Infelizmente, o homem que se licenciou enquanto jogava pela Académica e foi várias vezes treinador do Benfica, faleceu no mesmo ano em que “Toni” regressava à condição de sócio da Académica. Assisti ao Benfica fazer-se representar ao mais alto nível no seu funeral. Não me lembro de ver Fernando Medina, mas posso estar equivocado.
Medina confessou não se incluir na geração de políticos académicos como Veiga Simão, Almeida Santos, Carlos Alberto da Mota Pinto, Afonso Queiró, o Magnífico Reitor Rui de Alarcão, Fausto Correia, Mendes Silva, entre tantos outros, muitos ainda no “activo”, que orientados por um compromisso de lealdade e solidariedade, pugnavam por dar expressão e desenvolvimento à formação humana, ética, cultural e social dos atletas, elevando o nome da instituição Académica na estrita observância da formação global e integrada desses atletas como pessoas e cidadãos.
Estes, quando vestem o equipamento, sabem que está sempre em jogo serem o espelho de uma causa pela qual muitos lutaram e outros tantos continuam a lutar, sob o desígnio da superação contínua, ambicionando sermos mais do que “uma bola na rede”.
Coube-me a mim, enquanto presidente da direcção da Briosa, escrever a nota de pesar aquando do falecimento de Mário Soares, recordando então, para além das suas enormes qualidades a todos os níveis, uma sua declaração pública a um jornal desportivo: “Tenho sempre mantido uma posição equidistante em matéria de futebol, mas se há algum clube pelo qual posso “torcer” um pouco é pela Académica”. Não havia mesmo necessidade nenhuma.

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