Há alguns anos regressava eu a Portugal dum congresso em Paris, viajando ao mesmo tempo de seis colegas, e no aeroporto fui o primeiro a chegar ao balção de check-in. Dispus-me a fazer o check-in dos sete, e por isso foi a mim que a funcionária, em tom altaneiro e algo desdenhoso, disse: “Estamos em overbooking, não têm lugar neste voo, vão dar uma volta por aí que quando lhes arranjarmos um voo dizemos pelos altifalantes”.
Naturalmente fiquei irritado, não só pela mensagem, mas também pelo tom, já que sabia bem que pelas regras existentes não podíamos ser despachados para uma lista de espera tão impunemente. Por isso protestei energicamente, em voz alta, afirmando os direitos que tínhamos, e não me afastando do guichet. Os meus colegas também protestavam, mas deixaram-me a mim fazer as despesas do protesto, já que parecia estar a conseguir fazê-lo bem… Daí a pouco um indivíduo com ar importante, fardado, que se manteve sempre à distância do nosso grupo, mandou um segurança chamar-me. Quando cheguei junto a ele, deu-me a boa notícia: “Já temos um lugar para si neste voo para Lisboa, pode fazer o check-in”. Eu agradeci, e disse “Pronto, então agora só faltam mais seis lugares, porque somos sete.” “Ah bom, isso é que não pode ser, vai o senhor, e os seus amigos logo irão quando puder ser, está bem? Explica-lhes isso?”. É evidente que não estava bem e expliquei-lhe isso a ele.
Acabou por perceber que não se ia ver livre de nós todos facilmente, e lá nos arranjou sete lugares para Lisboa via Bruxelas, num avião que já estava na pista pronto para descolar. Fomos expressamente levados até ele por uma carrinha.
Os dois Hospitais Gerais Centrais de Coimbra foram fundidos, sem razão e sem projecto. Essa fusão não correu bem, criou um problema no SNS de Coimbra, e o caminho seguido por ela está a ser o desmantelamento dum dos Hospitais enquanto tal (Hospital dos Covões), ficando apenas um (HUC). Que já se viu que não se basta a si próprio nessas condições.
Pede-se a reversão da fusão, e a devolução da autonomia ao Hospital dos Covões. Naturalmente para que volte a ser o que não deveria ter deixado de ser: um dos Hospitais Gerais Centrais de Coimbra e da Região Centro.
Mas aí entram os defensores da fusão falhada. Os que na realidade acham que em Coimbra Hospitais deve haver só um, o HUC e mais nenhum… Sugerem variadíssimas soluções para os Covões… desde que não seja um Hospital… Querem que seja qualquer coisa que ao fim e ao cabo permita que o outro continue a ser o único. Pensar em haver dois, de modo ao sobrecarregado HUC poder ficar mais liberto e funcional, para dar uma boa resposta a tudo que se espera dele, a par do outro, como antes da fusão, isso não!
E, nesse esforço, lá poderá vir alguém (com autoridade, como o da história atrás, embora sem farda…) que procure convencer alguns dos que protestam que, no fundo, talvez não seja bem necessário um Hospital Geral Central, talvez um hospital com apenas algumas áreas, quiçá com as áreas que interessem aos interlocutores… e mais não será preciso… E talvez eles possam explicar isso aos outros…
Mas a realidade é esta: Coimbra precisa do Hospital dos Covões. Que lhe seja devolvida a autonomia e recupere as funções que tinha antes da fusão escusada e que, naturalmente, correu mal. É isto que os utentes e os profissionais que protestam há tanto tempo precisam e querem. Nem mais nem menos. Apenas isto.