Opinião: Uma Universidade de Inovação

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Por que razão é importante para uma região que existam universidades de investigação no seu território, nomeadamente aquelas que procuram ativamente contribuir para transferir e aplicar conhecimento (inovação) no tecido económico e empresarial da região? Muitos países, como os EUA e o Japão, mas também a Alemanha, a Coreia e muitos países nórdicos, devem o seu poderio tecnológico (e económico) ao facto de terem uma longa tradição de procurar criar e manter laços sólidos de cooperação entre empresas e universidades nacionais de ponta. Por isso, é hoje largamente aceite que as universidades são uma condição necessária, mas insuficiente, para desenvolver na região mecanismos de inovação que sejam virais. E como se mede esse impacto? Pela dimensão da “infeção”, isto é, com o número de start-ups criadas por ano, com o investimento em investigação e desenvolvimento que foi patrocinado diretamente pela indústria – usando recursos próprios e partilhando com as universidades partes significativas do seu rodmap estratégico de desenvolvimento a médio e longo-prazo -, com o número de patentes submetidas (nomeadamente as partilhadas com parceiros industriais), com o número de empresas criadas pelos seus alunos, com o emprego criado por essas empresas, com o volume de negócio dessas empresas, o impacto no PIB nacional e nas exportações. Tudo isso terá um efeito de boomerang, aumentando significativamente a capacidade de influência dessa universidade na região, o que permite melhor financiamento e capacidade de cumprir os seus objetivos estratégicos: mais e melhor conhecimento, mais e melhor capacidade de atrair e contratar talento, mais e melhor ensino, mais e melhor capacidade de transferir conhecimento para a sociedade, etc. É um círculo virtuoso, que, se bem gerido, de forma equilibrada, permitirá que a universidade seja decisiva no futuro da região e do país.

Este esforço, como missão, tem sido algo desmerecido em Portugal: nuns locais mais do que em outros, é certo, mas não há nenhuma região do país que possa dizer que cumpre cabalmente este objetivo. Isso explica-se tendo por base boas-razões, relacionadas com a eficácia e urgência das outras missões da universidade, e de uma certa desorientação estratégica e política do país, mas não pode distrair-nos da urgente necessidade de inverter o caminho. A pandemia mostra isso com clareza: veja-se a incapacidade que mostramos em ajudar, criar produtos rapidamente, ser eficazes na substituição de produtos que, sendo importados, deixaram de estar disponíveis. Os fundos associados à recuperação económica apelam-nos para esse esforço e não é por acaso que a re-industrialização, a capacidade de substituir muitas importações por produtos nacionais e de realizar rapidamente algo que é necessário, etc., são itens essenciais das prioridades definidas. Mas, o mais importante é o facto de todos percebermos, apesar de não admitirmos publicamente, que o papel que estamos a desempenhar nessa área é insuficiente, e está muito abaixo daquilo que poderíamos estar a fazer.

O esforço que temos de fazer para fazer da inovação uma das formas mais eficazes de intervenção da ciência e da investigação na vida de uma sociedade não se esgota no objetivo económico, mas estende-se largamente para a capacidade de transferir e difundir conhecimento, fazendo da procura de saber e saber fazer um modo de estar.

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