Sabia que o seu umbigo pode revelar aos outros coisas importantes a seu respeito? É que os umbigos falam. Não falam no sentido de falar, mas no sentido de revelar. A direção do seu umbigo pode dizer a outra pessoa que tem interesse em ouvi-la, caso se encontre virado para ela; ou que sente por ela desprezo (ou tem apenas pressa!) caso esteja a falar com essa pessoa com o umbigo já voltado para a porta. Funciona com o umbigo tal como com a ponta dos pés. Já pensou nisso?
Isto vem a propósito de expressarmos involuntariamente coisas que não gostaríamos de exteriorizar. Da mesma forma, podemos transmitir verbalmente uma mensagem embora a nossa expressão corporal indique, muitas vezes, o oposto do que dizemos. Quando as palavras e a fisionomia estão em desacordo, ou quando transmitimos o contrário daquilo que pretendemos, um sinal vermelho deve acender-se no âmago de nós. Pode revelar que não nos conhecemos o suficiente ou que não conhecemos o potencial do ser humano na sua vertente mais distintiva, que é a comunicação.
De facto, a comunicação é um processo de verdadeira importância no nosso dia-a-dia. Diz-se comunicação verbal quando esta abrange o âmbito oral e o escrito. Transmite ideias e pensamentos de grande complexidade, ativa o convívio social e os relacionamentos. Basicamente é isto. Mas nem sempre assim foi. Aliás, dir-se-ia mesmo que a linguagem é uma aquisição muito recente se considerarmos, como a ciência indica, que o ancestral do Homem surgiu há cerca de 12 milhões de anos, e o discurso não terá mais de 600 mil. Refiro-me ao discurso do ponto de vista orgânico, como o controlo da respiração e o domínio preciso dos músculos para produzir sons. Há outras teorias – que não vêm agora ao caso – que diferem desta. No essencial, uma linha da antropologia alude ao desenvolvimento dos músculos e nervos, formatando a medula espinhal, que é constituída por nervos que transportam as mensagens entre o cérebro e o resto do organismo. Daí podermos recuar 600 mil anos para encontrarmos, nos neandertais, essa evolução morfológica que se verifica na expansão da coluna e que indicia a capacidade discursiva.
Teorias à parte, 600 mil anos parece um tempo infinito mas corresponde “apenas” a 5% do longuíssimo período de existência da forma exordial do Ser Humano. Assim, usámos desde sempre a linguagem não-verbal, desde há 12 milhões de anos, pejada de gestos, movimentos, códigos sonoros, expressões faciais ou corporais, imagens e outros sinais. Esta linguagem é tão primitiva que a usamos espontaneamente acompanhando a fala, ou exprimindo o nosso estado, como por exemplo a tensão ou o nervosismo quando não paramos de mexer num objeto, ou a tristeza espelhada nas lágrimas. O nosso corpo assume posturas que quase sempre correspondem ao subconsciente e que transmitem uma perceção a nosso respeito. A sua preponderância é tal que cerca de 60% a 80% da nossa comunicação é não-verbal.
Apesar de a evolução ter dado ao homem a capacidade de, através do discurso, esconder as suas ideias e sentimentos, a nossa expressão desmascara-nos. Como o nosso umbigo.
Pode ler a opinião de Bruno Paixão na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS