Opinião: O Alfa e o Governo

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O gravíssimo acidente que no final de julho envolveu o Alfa Pendular, poderia ter sido evitado? Esta é uma das mais relevantes questões às quais o Governo devia responder sem subterfúgios, por a verdade dever fazer parte da política, e porque a confiança da população nos governantes e nas organizações depende imenso de políticos e gestores assumirem as suas responsabilidades.
São várias as notícias a relatar que, já há dois anos, uma comissão de peritos tinha indicado o que fazer para impedir colisões de máquinas e comboios que circulem indevidamente numa mesma linha ferroviária. Mas, por indesculpável incúria, nem tudo foi efetuado. Pelo que a responsabilidade de um aspeto tão fulcral para a segurança da circulação ferroviária não ter sido executado caberá certamente a muitos intervenientes, desde os que dirigem as instituições e as empresas públicas que legalmente a devem garantir, aos governantes que os tutelam.
Em política, é vulgar “a culpa morrer solteira”, por a verdade não ser apurada de forma célere, e os responsáveis políticos se enredarem em teias de desculpas dúbias e em artimanhas matreiras. Mas um governo que quer descarbonizar a economia em poucos anos, deveria saber que, para o conseguir, terá de mudar o paradigma de deslocações pessoais, levando as pessoas a preferir usar meios de locomoção pública em vez de viaturas privadas. O que passa por o povo confiar em todas as organizações públicas que sejam responsáveis pelos meios de transporte coletivos.
Anteriormente, as grandes questões ferroviárias eram a frequência dos comboios, o ajuste dos seus horários às necessidades de quem trabalha, e a garantia de não haver atrasos de monta. Presentemente, o maior dos problemas será o povo voltar a ter confiança em usar a via-férrea. É que, com tantos acidentes, já ninguém sabe se é mais seguro viajar de comboio ou de lambreta!
Por outro lado, com uma questão tão básica de segurança ferroviária por resolver, porque anda o Governo a equacionar trens de alta velocidade na linha do Norte e nas ligações à Europa? Não será melhor o primeiro-ministro descer do Olimpo, reduzir o seu mais que excessivo governo, e poupar o necessário para generalizar o sistema CONVEL, ou outro que bem entenda que impeça colisões na via-férrea? Ou terão de suceder mais acidentes com mortos e feridos graves, como o que acabou de ocorrer, para tomar consciência do que há muito tempo devia ter implementado?
Noutro tempo, o colapso duma velha ponte causou um gravíssimo acidente rodoviário, e o ministro que tutelava as Obras Públicas demitiu-se de imediato. Agora, um outro ministro que tutela CP, REFER e sei lá quantas empresas e áreas mais, explica tudo, mas fica tudo sempre na mesma! E se, para salvar as aparências, alguém se demitir ou for demitido, serão os gestores de uma qualquer daquelas empresas públicas, ou os governantes que as tutelam? Entretanto, este Governo vai dizendo que o país terá bom futuro! Será que o povo ainda acredita em quem o diz?

Pode ler a opinião de Gil Patrão na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS

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