Opinião – De vilão a polícia

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Quando jovem, especialmente quando estava em férias, devorava livros, quaisquer que fossem. Lia tudo o que aparecia, desde o que não era adequado à minha idade, ao que nem entendia, pela complexidade. Destes, tentava não me olvidar do que lera, para que, mais tarde, com outras leituras e maiores conhecimentos, viesse, por vezes, a atingir o que não tinha percebido antes. Foi um hábito que me ficou para sempre, e que se me foi muito útil profissionalmente, mais o tem sido na vida pessoal, que é, naturalmente, e para qualquer um, o mais importante de tudo.
Como outros, tinha uma predileção pelos livros policiais da Vampiro. Os que mais me atraíam eram os da célebre autora britânica Agatha Christie, e do seu eterno Poirot, e de outros autores que também tivessem como heróis detetives privados, como, por exemplo, Perry Mason. São coisas que vão passando a quase todos com o apressado passar dos anos, que nos faz começar a escolher o que fazer do tempo, um precioso bem que é, e será sempre, demasiado escasso.
Entre as fabulosas histórias que li, está a do célebre chefe da polícia de Paris que, até ser aliciado para ocupar tão alto cargo, fora um dos maiores ladrões de sempre. Claro que com a sua grande argúcia, aliada à experiência de “meter a mão na massa”, deslindava as mais perfeitas tramóias daqueles que o sucederam no mundo do crime. Vem isto a propósito de um moderno “hacker” (pirata informático), doravante Galito, que, de forma ilícita, dizem ter acedido a ficheiros informáticos que têm ajudado a desvendar uns “podres” que assolam a sociedade atual.
Recordei-me desse vilão, depois polícia, quando Galito foi posto em liberdade para aguardar julgamento, pela simples razão de ter ouvido dizer que o mesmo desencriptara diversos ficheiros informáticos que, muito antes de ser preso preventivamente, teria encriptado de tal modo que as maiores instituições policiais nunca conseguiram aceder à informação neles contida. O que me faz supor que, na informática, Galito, como noutras áreas o tal chefe da polícia, será um génio.
Oxalá Galito tenha a mesma sorte daquele polícia, ex-vilão, e seja recrutado pelos serviços de investigação criminal para continuar a prestar, mas de modo lícito, serviços relevantes no apuramento da verdade sobre negócios que, sendo desta era, decerto estarão encriptados, mas que serão tão sujos como o eram, no tempo do inesquecível Arsène Lupin, os esgotos de Paris.
Lupin, elegante ladrão de casaca que no início do século XX, por só roubar fortunas de origem duvidosa, rivalizava em popularidade com Sherlock Holmes, estaria hoje desfasado, face aos grandes golpes que vão ocorrendo em ambientes sofisticados de elegantes sedes bancárias, e ao redor de grandiosos estádios desportivos em que as bolas vão saltitando de uns para outros tão velozmente, como as notas se acumulam nos bolsos de uns, saídas das mãos incautas de outros!
Nota final: Qualquer semelhança desta crónica ficcional com a realidade será mera coincidência.

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