Opinião: A corrupção em Portugal vale uma “Bazuca” por ano

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O país discutiu durante semanas o valor das ajudas europeias a atribuir a Portugal para fazer face aos efeitos económicos da pandemia por Covid-19. Era essencial garantir, nas negociações que decorreram em Bruxelas, um envelope financeiro generoso, pois o PIB ameaça cair mais de dois dígitos. No final, PM e PR anunciaram satisfeitos um valor superior a 40 mil milhões de euros para os próximos 6 anos, dos quais mais de 15 mil milhões são a fundo perdido. Uma verdadeira “bazuca”, afirmou o PM.

No entanto, o país que declarou ao mundo que não era corrupto (“Portugal não é um país de corruptos”, Pinto Monteiro, PGR, 27/5/2010), perde anualmente 18,2 mil milhões de euros por ano devido à corrupção. O número é verdadeiramente avassalador, correspondendo a uma perda anual superior ao valor da “bazuca” negociada para Portugal para os próximos 6 anos. Nesse período, o valor perdido para corrupção atinjo o astronómico valor de 18,2 x 6 = 109,2 mil milhões de euros, ou seja, corresponde 51,5% do PIB de 2019.

Para terem uma ideia do impacto social deste valor anual perdido por corrupção, fiz algumas contas e consultei um relatório apresentado em 2018 no Parlamento Europeu pelo pelos Verdes e Aliança Livre.

Os 18,2 bilhões de euros perdidos anualmente por corrupção em Portugal correspondem a mais de 10 vezes o orçamento para subsídios de desemprego (cerca de 1,8 mil milhões de euros).

Este valor é superior ao orçamento anual para a saúde (16, 1 mil milhões de euros) e corresponde a 80% do valor gasto pelo país com reformas e cuidados na velhice (22,4 mil milhões de euros). Na verdade, este valor corresponde a essencialmente metade do que é gasto em Portugal com todos os serviços da Segurança Social.

Num momento em que muitos se preocupam com a segurança e com os incêndios, fiquem a saber que esse valor perdido por corrupção corresponde a quase 10 vezes o valor gasto com policiamento (1,9 mil milhões de euros) e mais de 72 vezes o valor gasto com os bombeiros (251 milhões de euros).

Quando o futuro é visto como um investimento, deveria preocupar-nos saber que Portugal perde anualmente por corrupção mais de 314 vezes o que gasta em políticas de habitação (58 milhões de euros), mais de 9 vezes o que gasta em políticas de proteção à família e às crianças (1,9 milhões), mais de 7 vezes o que gasta com apoios à doença e à deficiência (2,4 mil milhões de euros) e mais do dobro do que gasta em educação (8,7 mil milhões).

Se quiséssemos distribuir esse valor pela população portuguesa, isso significaria um subsídio anual de quase 1800 euros, o que corresponde a cerca de 5 euros por dia. É fácil de perceber que se acabaria com a pobreza e com a fome, pois 18,2 mil milhões distribuídos pelos cerca de 2 milhões de portugueses em risco de pobreza equivale a um valor anual por pessoa de cerca de 9100 euros, ou seja, 750 euros por mês (25 euros por dia).

Consequentemente, António Costa errou o alvo. Não era com os fundos comunitários que deveria estar preocupado, mas sim com um plano ambicioso de combate à corrupção. Com isso, e recuperando uma grande parte destes 18,2 mil milhões de euros, o país poderia investir no SNS, assegurar melhor educação, ser capaz de proteger as pessoas no final da sua vida e ter músculo financeiro para definir prioridades e investir no futuro. Tem razão o economista sueco que dizia há dias que Portugal tem condições para ser um dos países mais desenvolvidos da Europa. Tem de facto. No entanto, decide não combater um fenómeno que consome quase 8% do PIB nacional, afirmando até que esse fenómeno não existe. Apesar das boas intenções, os partidos do arco do poder têm sido ineficazes nessa luta. A pergunta é: o que ganham com isso?

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