Opinião – Oito anos no retrovisor da vida

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Lutámos como poucos, celebrámos vitórias, algumas derrotas também. A maior perda de todas foi a morte de um dos nossos, prematuramente. O Manuel Claro integrou desde o começo as nossas candidaturas e foi sempre uma voz presente. Sofremos todos com isso. O Pedro Coimbra, enquanto líder dos socialistas do nosso distrito, lembra-o constantemente. Essa atitude faz parte do que ele é. Por detrás da imagem pública, simpática mas sobretudo séria deste deputado da nação, que tem vindo a exercer vários cargos ao longo da sua vida, há uma pessoa sensível, que ri, que se comove, que se preocupa com os amigos. Há uma pessoa generosa. Que gosta das coisas simples.
O Pedro é, na sua essência, um humanista, solidário e fraterno, inteligente e academicamente habilitado, um homem com coluna vertebral, que não se resigna e nunca baixa os braços. Não teme tomar decisões difíceis. Educado como poucos. Humilde, sempre com uma palavra pronta de agradecimento. É frequente vê-lo triste com as dificuldades de gente à nossa volta, ou angustiado com o facto de não conseguir passar mais tempo com a mulher, a Nádia, com o filho, o João Artur, ou com os seus pais. A política é um serviço público.
No dia em que venceu as primeiras eleições, ligou-me às três e meia da manhã a dizer que não conseguia dormir. Apanhou-me igualmente acordado, pelo mesmo motivo. Ficámos à conversa sobre futilidades, coisas que a amizade encerra. Este é um episódio que não representa apenas o corolário de uma eleição ganha, em 2012, mas o início de um ciclo de oito anos, que há dias terminou. Muito trabalho se seguiu. Aliás, o Pedro Coimbra é um trabalhador incansável. Levanta-se cedo. Deita-se tarde. Trabalhar durante tantas horas diárias e tão bem é coisa rara.
Não é, por isso, de espantar que tenha obtido resultados inéditos, sobretudo em autárquicas, onde o PS liderado por si conquistou 12 dos 17 municípios. Ou em eleições nacionais e europeias, ficando sempre acima da média nacional obtida pelo PS.
O Pedro Coimbra tem duas paixões umbilicais: a sua terra natal, Penacova; e a sua Região, onde Coimbra ocupa um lugar igualmente especial. Com a sua tremenda energia, dir-se-ia que podia dar a volta ao mundo, se tal fosse preciso, para lutar pelas causas justas destas suas predileções.
Durante estes quase três mil dias, houve histórias inconfessáveis. É assim entre pessoas de bem. Sempre, mas absolutamente sempre, houve respeito na discordância. O Pedro é profundamente democrata.
Resistiu ao maior golpe político que a história pode contar. Uma traição indecorosa, de alguém por quem ele tanto dera. Le Carré tem uma frase inigualável sobre a condição humana: “A lealdade pode não ser um bem; é que chegará a altura em que não encontrarás nada nem ninguém a quem servir”. Um nome de vulto nacional disse que “antes de reabilitares a serpente, cuida que ela não te vai morder a seguir, pois está na sua natureza”. Na noite em que me contaram a conspiração que apodrentava a mais vil decadência, fiquei de tal maneira indisposto que não consegui agarrar no telefone. Na manhã seguinte, eu podia ter dito: “bem que te avisaram que isto iria acontecer”. Mas não valia a pena. A grandeza de um homem está em levantar-se depois de um empurrão. Ele levantou-se, foi à luta, venceu. Acho que ninguém mais o conseguiria fazer. A sua resiliência fê-lo triunfar.
Aquela campanha foi essencialmente ele e eu. Claro que muito mais ele que eu. Uma campanha dura. De grande sofrimento e angústia. Mas de garra e de raiva. Os traidores dão-nos força, fiquei a saber.
Cada um contará a sua história. Eu conto a partir do tanto que vi, que vivi e que privei. Dizem que na política não há gratidão. Talvez também por esse motivo eu não seja um político. A minha gratidão ao Pedro Coimbra é indizível. Tal como a de milhares de camaradas nossos.

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