Um dos problemas maiores da política e da educação é a interpretação. Um tipo pode saber ler magnificamente, mas a sua ideia sobre o exposto estar truncada de vícios, de maledicências, de pré-existências , de conceitos nascidos da experiência. Se casar foi um tormento a aproximação é sempre mais complexa. Se naquela escola sofreu não vai querer voltar depois. Interpretar um texto carrega sempre um pré conceito.
Interpretar obriga a perceber o que se diz e o que se quer dizer ou sugerir. Mesmo as leis são para interpretar o seu espírito e não para gerir à letra. Imaginemos um juíz que lê sem titubear, mas depois interpreta com base na Bíblia ou no Corão viciando o texto ou orientando o veredicto. Isto é real para a avaliação política, para a interpretação do que fizeram os filhos, para a leitura dos amigos. Felizmente um canalha egoísta é mesmo isso e também pai, filho, e amistoso para alguns. Esta realidade destrói a dicotomia do bem e do mal. A multiplicidade interpretativa tem este fascínio contundente: nunca ficamos todos satisfeitos com a melhor decisão.
A cultura é uma base estruturante da interpretação, transportando mais argumentos, mais saberes, mais plasticidade aos factos e à sua visão. Os seres humanos conseguem possuir enormes quantidades de habilidades e de sabedorias, mas a capacidade de as interligar é outra função do cérebro.
Como a inteligência emocional não tem nada a ver com as capacidades científicas, um iluminado cientista pode ser uma fanático de um clube, um cidadão religioso pode ser um facínora de um cruzado. Esta subtileza que nos torna cidadãos complexos leva a que a internet e as redes sociais estejam pejadas de ditadores, de fascistas de ideias, de dedos acusadores, de deliciosas afirmações com fase em falsidades nunca desconstruídas. A afirmação e o posicionamento chega antes das certezas.
Por tudo isto a linguística é essencial. O que queremos dizer tem de estar explanado nas palavras adequadas reduzindo o peso da interpretação e afunilando o leque de leituras. Muitas pessoas usam a emoção a trote e pisam tudo o que as rodeia com insultos e acusações, e outras mal estruturadas, mal amadas, carregam litros de vinagre nas costas, das mãos libertam ácidos intranquilos sobre tudo o que as contraria.
A realidade é pois uma estrutura que se pode observar de inúmeros ângulos, com inúmeros óculos, com filtros, tateando, de cima, por baixo. O politicamente correcto é uma das leituras interpretativas do tempo moderno. A construção de mentiras é outra deselegância das mentes fanáticas, e a recusa em ouvir ou perceber outras leituras é uma parede mais forte que tijolos e cimento.
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