Opinião – Frugais mas pançudos

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Os comedores-de-dinheiro são como os vírus: de vez em quando mudam de aspecto para prosseguir caminho. Os comedores de dinheiro já foram “rigorosos” e “austeritários”, mas de momento gostam que lhes chamem “frugais”, e frugais parecem ser. Mas só no que se refere às nossas dietas, porque nas deles são do mais voraz que já temos visto. Por exemplo, o “holandês” de quem agora se diz mal – herdeiro do outro holandês que nos acusou de lambarice em mulheres (o figurão era misógino) e tintol – não mostra frugalidade nenhuma no respeitante ao embolsar, por lá, os dinheiros dos nossos consumos por cá…
Grande vai sendo a nossa indignação com estes desempenhos dos ministros holandeses, mas é injustiça nossa – o holandês de turno faz, afinal, o serviço que lhe é encomendado, e a “Europa” não se ofende. Ofendem-se os portugueses, os italianos, os espanhóis, mas cada “quais” por si. Porque, como mais uma vez se viu, “europeus” é coisa que não há, ou uma Europa qualquer deles cuidaria, fosse qual fosse o lugar onde morassem.
Estamos (os portugueses), portanto, por nossa conta, o que não tem mal nenhum. Mesmo que haja quem confunda soberania com o “orgulhosamente sós” do subdesenvolvimento, Europa sem aspas só pode ser uma Europa de iguais. É que soberania não é isolamento – é capacidade de proposta. Soberania é capacidade de decisão – na economia, na política, na vida. Soberania é usar a nossa terra, o nosso mar, a nossa inteligência (desde o “desenrasque” ao saber construído). Soberania é, afinal, tudo o que o tal holandês não quer que aconteça (e a “Europa” não o contraria). Faltando soberania, o holandês mas quer dirigir o gasto, conforme a cartilha dos agiotas; empresta mas quer “reformas”, sobretudo as da legislação laboral – porque braços a preço de tostões são mais convenientes às fortunas de milhões.
Costa por lá andou. Desta vez faltou-lhe o fôlego para o famoso “repugnante”, ainda que, repugnantemente, a “Europa” tenha negado aos países fragilizados a solidariedade que, no auge da epidemia, chegou mais depressa de um pequeno país das Caraíbas e da terra de Confúcio do que dali mesmo ao lado. Este não era, porém, tempo para indignações. É que enquanto o milhão vai e vem folgam as costas e, nesta nova etapa de governação à vista, os pudores estragam os ambientes. A realidade é, contudo, menos entusiasmante do que a ficção. Para os que festejam os números do “apoio”, diga-se que, só em três anos, saiu de Portugal para os offshores (em que se inclui a frugal Holanda) o dobro do que cá irá entrar; e que, à pala da “cedência”, o bando “frugal” vai poupar uns bons milhões de contrapartida no orçamento da EU; e ainda que, à nossa já arruinada agricultura, será acrescentado um anunciado corte. Robusta vitória, portanto…
Mas – perguntará o leitor atento – onde é que eu já vi isto? A preocupação justifica-se, pois é em momentos como estes que, distraindo-se o povo, surgem os clones caseiros das “frugais” criaturas, bradando que estamos a viver acima das nossas possibilidades. É que os comedores-de-dinheiro são como os vírus – quando cheira a carne fresca não há máscara que os assuste. Mas a vacina da soberania – e o desenvolvimento que ela possibilita – essa sim, assusta-os muito.

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