Opinião – Envelhecimento, geriatria e hospitais

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Saibamos o que é quando se fala de envelhecimento activo, geriatria e hospitais geriátricos.
Envelhecimento é um processo que nos conduz desde que nascemos até ao fim da nossa vida natural, na velhice. Não se sabe exactamente o que provoca o envelhecimento, e admite-se que o nosso organismo tenha dentro de si biologicamente inscrito um tempo limitado de existência, que é muito variável de pessoa para pessoa (como é de espécie para espécie). A esse processo biológico junta-se um conjunto de doenças que, não sendo exclusivas da velhice, se vão tornando mais frequentes à medida que os anos passam, e que são, globalmente: doenças cardiovasculares, neurológicas, cancro e diabetes.
Para além desse relógio biológico interno, haverá um conjunto de factores extrínsecos que poderão fazer com que tal relógio trabalhe mais rápido nuns indivíduos que noutros. Não só trazendo mais cedo na vida o que caracteriza a velhice, como também impedindo que esta chegue, através duma morte precoce. Porque, afinal, chegar a velho é o que todos desejamos, já que a alternativa não é solução…
Por outro lado, o passar dos anos acarreta em si alterações físicas, psicológicas e sociais, dependentes da nossa vivência, que, sendo muito variáveis a nível individual, são consistentes no seu conjunto. Psicologicamente, entre nós o maior problema do adulto idoso (que se convencionou ser o que tem mais de 65 anos) advém de socialmente haver a tendência crescente de o considerar um adulto em fim de vida, a descartar, um gastador de recursos, uma “peste grisalha”, alguém que quando doente se pode discutir se vale a pena ser tratado, apenas por causa da idade.
Assim, o modo como envelhecemos depende sobretudo dos nossos genes e características pessoais, mas também do meio em que vivemos, como vivemos, das agressões que vamos sofrendo ao longo da vida. Por isso admite-se que possa ser influenciado por alguns cuidados a ter e opções a fazer – no que se chama envelhecimento activo ou saudável. Num esforço para afastar, ou atrasar no tempo, algumas características do envelhecimento biológico e algumas doenças que com os anos se vão tornando mais presentes, se não tiverem aparecido antes.
Geriatria ou medicina geriátrica é o acompanhamento médico dos indivíduos idosos no seu envelhecimento. Às vezes erradamente tida com a mesma lógica da Pediatria face às crianças, por se desconhecer que estas têm de ser encaradas dum modo totalmente diferente dos adultos, já que não são adultos em miniatura. Ao contrário dos adultos idosos, cujo envelhecimento, tão variável duns para outros, não os transforma em seres diferentes e a separar dos mais novos. É claro que se tem de ter presente a possibilidade de alterações provocadas pelo envelhecimento quando se lida com doentes mais velhos, e por isso conhecimentos geriátricos devem estar sempre presentes na Medicina.
É desejável, e o foco da geriatria, conseguir-se um envelhecimento activo o mais generalizado possível, de modo a aumentar a esperança média de vida saudável dos cidadãos, mediante vários tópicos: adesão às terapêuticas instituídas; prevenção de quedas; prevenção de fragilidades funcionais; monitorização remota de saúde, reduzindo o número de visitas ao hospital; implementação de estruturas de apoio ao ambiente físico e social onde os idosos com limitações residam.
A geriatria é, pois, sobretudo importante na prevenção de doenças dos adultos à medida que envelhecem, procurando mantê-los longe dos hospitais o mais possível, no sítio onde vivam, saudáveis e activos, através de acompanhamento em consulta ou de acções de formação. Não faz qualquer sentido acumular doentes idosos em hospitais especiais, chamados “geriátricos”, segregados pela idade, com doenças que os mais novos também têm. A idade não é uma doença, é só mais um factor que deverá ser tomado em conta, como muitos outros. Quando internados, todos os pacientes têm de ser avaliados nas suas várias patologias e factores de risco, e os com mais de 65 anos não são diferentes dos outros. A atitude só pode ser tratar todos os doentes por igual, isto é, da melhor maneira possível, utilizando todos os meios disponíveis.

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