Opinião: E nós, o que vamos fazer?

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Imagine que o seu novo colega na empresa é um robô. Ele veio para substituir um humano, com uma enorme vantagem para o empregador: não tem vontade de ir à casa de banho, não conversa, não amua, não falta, não faz greve, não tem filhos, não chega atrasado, não dorme e não se queixa.
Este cenário não é ficção e está a generalizar-se. Talvez não conheça a Foxconn. É uma empresa sediada na Tailândia, considerada a maior fabricante de componentes eletrónicos do mundo. É das suas instalações que saem os iphones, as placas da intel, os componentes para marcas como a Microsoft, a Playstation, a HP, a Nintendo… Durante anos a fio, usou mão-de-obra barata para inundar o mundo com os seus produtos. Em maio de 2017, de uma assentada, substituiu 60 mil trabalhadores por robôs.
Conhece, com certeza, a multinacional americana Amazon. Esta substituiu 1300 pessoas por inteligência artificial capaz de empacotar produtos. As máquinas conseguem ser cinco vezes mais rápidas que os humanos. A mesma empresa abriu em Seattle, nos EUA, a sua loja de conveniência Amazon Go. Não tem empregados na caixa. Os clientes passam o telemóvel à entrada e, a partir desse momento, as dezenas de câmaras instaladas seguem os seus movimentos. As compras são automaticamente debitadas à saída, através de sensores.
Este mês ficou a saber-se que a Microsoft está a despedir dezenas de jornalistas, substituindo-os por software de inteligência artificial. Estes jornalistas são responsáveis pela atualização das notícias do site MSN e do navegador de internet Edge. A seleção e a edição de artigos passa a ser competência de um computador. Este software, mais cedo ou mais tarde, será posto à venda em todo o mundo.
Olhando para o Web Summit, como uma febre que conduz à aquiescência de um rebanho, a excitação do público nota-se quando sobe ao palco uma inovação que promete dispensar a intervenção humana. Nunca vi ninguém perguntar: “Então e nós, o que vamos fazer?”.
Se a tecnologia dizimar postos de trabalho ou trouxer mais insegurança profissional, cada vez mais pessoas deixarão de ter como assegurar as suas despesas básicas. Engrossará o exército de desocupados.
Imagine uma sociedade sem varredores, sem cheffs, sem advogados, sem juízes, sem médicos, sem jornalistas, sem condutores, sem farmacêuticos, sem pintores, sem autores, sem bancários, sem empregados de caixa em supermercados, sem rececionistas nem telefonistas, sem agentes de viagens, sem lojistas, sem professores. Enfim, sem quase nada daquilo que reconhecemos como real.
Com o desaparecimento das profissões, o mundo enfrentará uma gravíssima fonte de desigualdade social. Por isso, é urgente colocar em prática políticas que taxem as máquinas e redistribuam rendas. A União Europeia não está a fazer o que lhe compete, deixando um espaço aberto à intervenção dos populistas.
Parece-me evidente que os patrões, pretendendo que o capitalismo continue, aprovarão, por interesse próprio, uma forma de pôr dinheiro nas mãos das pessoas, para que estas tenham meios para continuar a consumir. Elon Musk, fundador da Tesla, já saiu em defesa da Renda Básica Universal, sustentando que esta quarta revolução industrial é rápida e substituirá milhões de postos de trabalho por inteligência artificial, sendo preciso dar meio de sobrevivência ao ser humano.
Este conceito, com origens no século 18, tem conquistado adeptos. Em pouco tempo deixará de ser uma discussão, passará a ser uma inevitabilidade. Trata-se de uma bolsa paga pelo Estado, redistribuindo os impostos cobrados às máquinas. Porque, sem ela, o mundo cairá na pobreza e na miséria, aumentando a criminalidade, a fome, a deseducação e o fosso entre os muito ricos e os muito pobres, terminando com o setor intermédio. Escreverá um computador: “Aqui jaz a sociedade”.

 Pode ler a opinião na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS

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