Opinião: “De Jökulsárlón a Eyjafjallajökull ( 2 )”

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Do alto da ponte em betão, nem grande nem pequena, mas com ar substancialmente sólido, é possível seguir o trajeto dos blocos de gelo, de tamanhos diversos, que, vindos da lagoa, desaguam progressivamente no mar, onde todas aquelas tonalidades de azuis milenares se desvanecem e afogam na gélida imensidão oceânica.
Noutro local, no sul da Islândia, em Vik, existe uma praia de areia preta, de largura reduzida e rodeada de altas falésias de negras rochas ígneas vulcânicas, magma solidificado há milhares ou milhões de anos, num cenário digno da melhor Guerra dos Tronos. O mar deveras agitado e as constantes placas de aviso impedem qualquer veleidade de aproximação à água. Em agosto, em pleno verão, faz muito frio e diversas correntes e cadeados têm a pretensão de não deixarem que alguém se aproxime daquelas grandes ondas, devido à sua imensa perigosidade. De qualquer modo, não anda por ali vivalma.
Há dez anos, entre os dias 4 e 20 de Abril de 2010, o vulcão que tem o simpático nome de Eyjafjallajökull, localizado no sudoeste da Islândia, entrou em erupção, provocando o caos na Europa e impedindo o tráfego aéreo durante vários dias, em múltiplos países. Densas nuvens de fumo obscureceram os céus europeus durante muitos dias, alterando por completo as rotinas dos seres humanos, muito apreensivos com o comportamento dos mercados. Mais uma vez, a Natureza impunha a sua autoridade inabalável.
Junto à estrada e antes do desvio para ir ver o Eyjafjallajökull, existe um Centro Interpretativo deste vulcão, uma quase cabana de madeira, no meio de uma paisagem desoladora, onde é possível visitar um núcleo museológico e visionar um pequeno filme, escutando diversas explicações sobre a irrequietude do Eyjafjallajökull assim como as consequências devastadoras desta sua última erupção.
Deambular pela Islândia é um desafio à imaginação e uma aventura constante. No verão, porque no inverno nem se pode circular. O interior da ilha é desabitado, sendo as estradas praticamente inexistentes. O interior e o norte não são acessíveis durante o inverno, tal o rigor e a inclemência do clima, numa ilha que tem como nome original “Iceland”, situada à latitude do Alasca, da Sibéria e da Gronelândia.
Esta terra do gelo não facilita a ocupação humana, essencialmente circunscrita ao litoral. Fogo e gelo. Vulcões e géiseres, vapores sulfurosos, cheiro a enxofre, águas ferventes oriundas das entranhas da Terra, convivem com inúmeros glaciares, enormes cascatas, neve, gelo, frio, vento e surpreendentes paisagens, quase sempre desertas e que não parecem ser deste mundo mas pertencentes a planetas misteriosos e longínquos.
Aqui tem-se bem a noção que o planeta Terra pertence à Natureza, sendo parte integrante do infinito e desconhecido Cosmos, fora do alcance do entendimento humano. O Universo rege-se por noções de tempo e de espaço que permanecem quase inacessíveis à limitada compreensão humana.
Sempre que a Natureza se apresenta mais dinâmica, na sua incontrolável e caprichosa autonomia, o ser humano consegue vislumbrar a verdadeira essência da sua insignificância e irrelevância cósmica. Apesar da economia, apesar da tecnologia, apesar das armas, apesar dos mercados, apesar da soberba, apesar da ignorância.
Há 65 milhões de anos, a Natureza extinguiu os dinossauros, varrendo-os da face da Terra que tinham ocupado, em terra, no mar e no ar, durante mais de 200 milhões de anos.
O ser humano, muito mais frágil, é um fenómeno recente na história da vida deste planeta. Deveria respeitar e preservar melhor este globo que permitiu a nossa existência. Ao longo da curtíssima história do ser humano, alguns fenómenos naturais perturbaram seriamente a nossa existência, desde terramotos, erupções vulcânicas, incêndios, tempestades, chuvas torrenciais, pandemias, entre outros fenómenos.
Deambular pela Islândia desperta-nos para estes pensamentos, eventualmente tão desinteressantes e inócuos para quem comanda os destinos deste perecível mundo.

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