Jaime Silva: “A duplicação da capacidade de treino do Olivais FC é essencial”

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Arquivo FPB/sportflash- Jaime Silva (esquerda) Jaime Silva (à esquerda) foi distinguido, pela FP Basquetebol, três vezes como dirigente da Liga Feminina (2008/2009, 2013/2014 e 2018/2019)

Após três mandatos e oito anos como presidente do Olivais, vai deixar a direção do clube. Que balanço faz desta ligação?

Faço um balanço muito positivo. No meio de dificuldades económicas consideráveis no país e no mundo, o Olivais FC conseguiu manter centenas de jovens em atividade física regular, algo que todos os estudos indicam ser essencial para um crescimento equilibrado dos jovens, com repercussões positivas no seu desempenho escolar e na sua evolução pessoal e social. O Olivais FC conseguiu fornecer-lhes um mínimo de condições para um trabalho regular e persistente, objetivos de progressão e muitos títulos distritais, regionais e nacionais.

São 12 anos em direções olivanenses. Na sua opinião o que mudou para melhor no Olivais?

Não podemos fazer um balanço desse tipo, pois todas as direções conseguiram, ao longo dos 85 anos de história do Olivais FC, levar o barco a bom porto. Todas as direções tiveram de lidar com dificuldades diferentes, mas todas conseguiram cumprir igualmente a missão do clube. Para honrar o trabalho de quem está cá há mais tempo do que eu queria distinguir duas pessoas: o Sr. Artur Caetano, que há 58 anos trabalha no Olivais FC e ocupou todos os cargos que há para ocupar menos o de presidente (não por falta de mérito mas por imensa modéstia pessoal), e o Eng. Carlos Daniel, filho de um dos fundadores do clube, trabalhador incansável pelo clube e autor dos dois livros sobre a história do Olivais FC já publicados. Com ambos tive o prazer de colaborar ao longo de todos estes anos.

Olhando para estes 12 anos, e para os oito como presidente, o que sente que fica, digamos, por fazer?

Acho que está por fazer o que sempre esteve por fazer e nunca houve vontade política para efetivar: uma relação clara entre as instituições nacionais, regionais e locais para definir um enquadramento legal e financeiro estável para os clubes desportivos amadores. Nenhum clube consegue planear devidamente a sua época desportiva pois não sabe que apoio financeiro irá receber, ou que espaços de treino irá poder ocupar (as instalações próprias raramente são suficientes). Como quase todos os atletas são estudantes, deveria haver articulação clara e flexível com o desporto escolar (como há em muitos outros países), deveria haver possibilidades de treino alargadas dos melhores atletas (que normalmente são também melhores estudantes) e nada disso está definido, havendo apenas medidas pontuais que aparecem e desaparecem com estonteante velocidade. Pior do que tudo, as estatísticas portuguesas de obesidade infantil são preocupantes e não há condições para treino físico regular de todos os jovens.

A aprovação do apoio da autarquia para a substituição da cobertura do piso e das bancadas no Pavilhão Eng. Augusto Correia foram dois “cestos” saborosos para fechar o mandato?

Efetivamente é uma medida que tardava, que deu muito trabalho para chegar onde chegámos, que obrigou à produção de centenas de documentos ao longo dos anos, mas que vai ter uma conclusão que muito contribuirá para a qualidade do trabalho desportivo do Olivais FC.

A nível de infraestruturas, ainda não há financiamento para um pavilhão anexo “à casa” do Olivais. Essa deverá ser, na sua opinião, uma conquista pela qual a futura direção deverá lutar?

É uma necessidade evidente do Olivais FC.  Só podemos treinar a partir das 18H30, em dias de semana, pois os atletas são estudantes e têm aulas até tarde. Com unidades de treino de 1H30, há espaço apenas para três unidades por dia, 15 no total. Como o Minibasquete treina na quarta-feira à tarde e no sábado de manhã, só sobram na realidade 14 unidades de treino para todas as equipas. O Olivais tem normalmente seis equipas de formação e duas seniores (às vezes mais), que devem treinar quatro e cinco vezes por semana, respetivamente. São necessárias um total de 34 unidades de treinos. A duplicação da capacidade de treino do Olivais FC é essencial e mesmo assim ainda são precisos mais espaços, pois o próprio Minibasquete precisa de treinar mais (e a miudagem quer).

A época 2018/2019 ficou marcada pela dobradinha, Liga Feminina e Taça de Portugal, na equipa sénior feminina. Em 2019/2020 já tinham erguido a Supertaça e a Taça Federação, para além do regresso às competições europeias. As seniores femininas “escreveram” mais uma página dourada na história do basquetebol do Olivais?

É verdade! Tivemos excelentes jogadoras nas duas equipas capitaneadas por Inês Viana, Alice Martins e Marcy Gonçalves, orientadas por um excelente treinador, Eugénio Rodrigues, e enquadradas por três dirigentes que muito “suaram” pelo clube: José Mingocho, José Castro e Luís Santos. Fica para a história.

Sente orgulho pelo trajeto dessa equipa nas últimas épocas?

Claro. Eu e todos os olivanenses e todos os amantes do basquetebol. São um ícone do bairro de Santo António dos Olivais e da cidade de Coimbra, um exemplo para todas as jovens atletas.

Olhando para a equipa sénior masculina…a subida à Proliga terá de continuar a ser a meta?

Definitivamente. Temos tido atletas de qualidade, bons e experientes treinadores, temos todas as condições para jogar numa Proliga. Este ano estávamos lançados para discutir a subida sob a batuta do experiente treinador Emanuel Seco, com o apoio do patrocinador principal e com uma equipa capitaneada pelo estudante, jogador e treinador Nelson Jossias, mas a época terminou abruptamente. Para o ano certamente a luta continuará.

Que opinião tem sobre o percurso dessa equipa nos últimos oito anos?

Esta equipa tem sido prejudicada pelas dificuldades orçamentais, mas tem contado com excelentes treinadores e jogadores, cobiçados por muitos clubes. Este último ano, com o apoio generoso e substancial da empresa ABTF Betão, poderia ter ido mais longe, mas a pandemia veio frustrar as nossas expectativas.

A formação do Olivais é outro motivo dos seus motivos de orgulho? Houve um crescimento no número de atletas e, também, de títulos?

O número de atletas tem oscilado muito ao longo dos anos, como em todo o país, dependendo das condições económicas e dos espaços de treino disponíveis (normalmente temos de treinar em quatro ou cinco pavilhões diferentes e por vezes bem longe de casa). Efetivamente nos últimos anos a formação conseguiu um número invejável de títulos, de presenças em fases finais nacionais e de atletas chamadas a seleções nacionais, femininas e masculinas. Relembro, a título de exemplo, que são quatro presenças em fases finais nacionais da equipa de sub-16 femininos que no ano passado venceu a Taça Nacional. Também a equipa de sub-14 masculinos, tricampeã distrital, no ano passado presente na Fase Final a seis onde obteve um honroso 4.º lugar nacional, no escalão onde há mais equipas no País.

Esteve numa direção anterior, foi presidente da Mesa da AG e presidente da direção em três mandatos. Sai com o sentimento de “dever cumprido”?

Totalmente. São 23 anos de ligação ao basquetebol do Olivais FC e 12 anos com funções dirigentes.

Nestes doze anos deve ter inúmeras histórias caricatas/curiosas. Pode contar uma que lhe tinha ficado na memória?

Muitas histórias curiosas têm acontecido. Posso contar o seguinte sobre a saga de obter vistos de atletas estrangeiras para entrarem em Portugal. Existe a figura de “Visto de estada temporária para exercício de atividade desportiva amadora”, devidamente legislado e presente nas páginas das entidades oficiais (como o SEF-Serviço de Estrangeiros e Fronteiras). Tenho, contudo, de contactar diretamente os Consulados de Portugal em cada país para esclarecer a situação pois muitos só conhecem vistos para atividades profissionais em empresas. Tenho ainda de esclarecer que o Olivais Futebol Clube é na realidade um clube de basquetebol (o mundo do futebol não é bem visto e tem havido muitos problemas nessa área), que o Olivais FC é conhecido e reconhecido nacional e internacionalmente. São horas ao telefone, muitas vezes via Skype porque as chamadas normais atingem preços proibitivos. Num caso, o visto foi mesmo recusado em primeira instância porque o Consulado considerou que era falso que a requerente de visto fosse atleta, apesar de ela ser atleta da seleção nacional do seu país, com ficha pública na Federação Internacional (FIBA). Só depois de um recurso com muitos documentos comprovativos da existência e atividade do Olivais FC foi possível conseguir o visto.

É professor de matemática na UC e faço o trocadilho. Concorda que, nas suas direções, o Olivais somou vitórias que ajudaram a multiplicar os títulos?

As direções precisam de negociar com os poderes públicos, com a Federação, com os outros clubes, com os patrocinadores, com as escolas, etc, etc, etc, mas quem soma títulos são os atletas e os treinadores. Só a qualidade do trabalho de atletas e treinadores permite chegar onde chegámos. De outro modo como se poderia explicar a presença, nos últimos cinco anos, em sete Fases Finais nacionais da formação, a obtenção de 12 títulos distritais, 3 medalhas de bronze nacionais e um título nacional na formação?

Ainda na aritmética…Que conquista considera ter sido a adição mais saborosa?

Destaco duas: a Taça Nacional de Sub-20 masculinos, a única conquistada pelo Olivais FC, que foi o primeiro título nacional conquistado pelo Olivais FC comigo como presidente, e a Taça da Federação da Liga Feminina de 2020, por ter sido a primeira conquistada pelo Olivais FC numa prova tão difícil e exigente (três jogos em três dias seguidos com menos de 24H00 de intervalo entre eles).

Também tem o curso de treinador e já trabalhou com as equipas do minibasquetebol. Poderemos ter, no futuro, o Jaime Silva de regresso aos treinos dos jovens jogadores?

Eu acompanhei sempre o Minibasquete que é claramente o escalão da minha preferência e nos últimos dois anos treinei a equipa de Mini 8 que acompanhei em muitos torneios. Tirei o curso de nível I de treinador de basquetebol em 2006 e fiz estágio no Minibasquete com o experiente treinador Paulo Cordeiro (uma lenda viva do Olivais) que acompanhei em Mini 10 e Mini 12, durante quatro anos. Espero continuar ligado ao Minibasquete. Como disse numa entrevista que dei ao Planeta Basket em 2008, “Ensinar basquetebol não me parece assim tão diferente de ensinar Matemática.”. Como gosto de ensinar Matemática…

Que mensagem gostava de deixar aos sócios e adeptos olivanenses?

Só com a ajuda de todos, o Olivais pode conseguir desempenhar plenamente o seu papel. Ajudem o Olivas FC e estão a ajudar a sociedade no que é de mais vital: o desenvolvimento harmonioso dos jovens.

E aos atletas, o que gostava de dizer, “na hora da despedida”?

Olhem para todos os exemplos empolgantes dos 85 anos de história do Olivais FC e tentem inspirar-se nos seus maiores ícones e, porque não, superá-los.

Para a futura direção, quer deixar algum tipo de conselho/recomendação?

Recomendo aquilo que tomei como lema ao longo de todos estes anos: temos de honrar todo o rico historial do Olivais FC como instituição desportiva e social e tentar fazer o melhor que nos for possível.

Em 2020 o Olivais celebrou 85 anos de existência. Quais são, na sua opinião, os traços mais distintivos do clube que é um referência nacional no basquetebol?

O Olivais FC carateriza-se pelo ambiente familiar e de entreajuda que perpassa atletas, dirigentes e suas famílias. O pavilhão foi construído por uma comissão da casa onde sobressaíram os dirigentes David Neves e Artur Caetano, com a ajuda de toda a população da cidade que colaborou ativamente nos seus momentos livres. Desde os arraiais de antigamente até ao bar do Olivais, superiormente dirigido pelo Sr. Adelino Henriques, passando pelos ícones do Olivais, o Sr Periquito e o Carlitos, quem passa por lá, quer sempre voltar: uma vez Olivanense, sempre Olivanense.

Obrigado. Só mais duas breves questões, a sua idade e naturalidade.

Sou natural da freguesia de Sé Nova, em Coimbra, nasci, em 1955, na maternidade Dr. Daniel de Matos. Vou completar este ano 65 anos de idade, 45 anos como docente do ensino superior. Desde há 40 anos tenho contado com a ajuda inseparável da minha esposa Ana Isabel Rosendo. Tenho cinco filhas e, para já, dois netos.

DR

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