Opinião: O legado de António Arnaut

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Passam hoje 2 anos sobre o desaparecimento físico do Dr. António Arnaut, mas a sua memória – apesar de alguns a tentarem ignorar – está mais viva do que nunca.
Na nossa história democrática, poucos Portugueses deixaram um legado tão importante ao País como Arnaut.
A conhecida frase “os Homens passam, mas a obra permanece” aplicou-se-lhe em toda a amplitude e significado.
Nesta pandemia global, o “seu” Serviço Nacional de Saúde (SNS) manteve-se firme na luta pela vida dos Portugueses.
Ao contrário de outros países, podemos afirmar com orgulho que, em Portugal, o SNS não sucumbiu, não cedeu, não vergou ao drama sanitário que assolou o planeta.
A resiliência dos nossos profissionais de saúde e dos nossos hospitais, nestes dias, só foi possível porque alguém em 1979, num ato de coragem e rebeldia, decidiu que um SNS global, universal e gratuito era o futuro, que era a melhor base para a solidariedade e para a justiça social e também para o desenvolvimento e eficácia de políticas promotoras da Saúde dos portugueses.
Naturalmente que o SNS de hoje, articulado com o sector privado, convencionado e da economia social, não é nem poderia ser o mesmo que Arnaut delineou da década de 70; o desgaste dos anos e as novas demandas exigiram adaptações, mas as bases, o coração e o sonho de Arnaut continuam vivos e pujantes.
Mas cumpre sublinhar que António Arnaut não foi apenas o arquiteto, o construtor, o defensor do SNS: foi muito mais, foi uma “vida cheia” e contagiante, foi uma alma empenhada e mobilizadora, foi um coração enérgico e caloroso.
Foi um brilhante advogado, que, com o seu conhecimento e a sua oratória, impressionou todos aqueles que com ele se cruzaram profissionalmente.
Foi um entusiasta escritor e poeta, que nos deixou centenas de obras, todas elas com impressionante equilíbrio e medido balanço entre um sentimento expressivo e uma frieza realista.
E foi, para muitos, uma fonte inesgotável de admiração e de inspiração, principalmente para quem – como eu – teve a honra de ser seu amigo e de beneficiar do seu convívio.
Conhecemo-nos, era eu estudante de medicina cheio de sonhos e o Dr. António Arnaut um jovem e promissor advogado; mal imaginava que ele iria mais tarde, como Ministro da Saúde, tutelar a minha profissão.
Conheci-o informalmente, mas nunca mais o “larguei”. Atravessei décadas como seu amigo e em cada conversa era surpreendido pela capacidade do seu intelecto, pela força das suas convicções, pela consistência dos seus valores.
No final da sua vida, acompanhei o cruel progressivo esfumar do seu corpo, enquanto assistia ao fortalecimento da sua alma: cada dia foi, nessa fase dolorosa, um monumento às – sempre suas – ideias de otimismo, de ânimo e de coragem. Passados estes 24 meses de saudade, reforço o que sempre pensei dele: António Arnaut foi – e é sempre – um leal Amigo do seu Amigo e um Amigo de Portugal.
Se tivesse de definir António Arnaut em uma palavra apenas, escolheria: OBRIGADO.

Pode ler a opinião de José Martins Nunes na edição digital e impressa do Diário As Beiras

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