Opinião: Iniciativas que contam… Coimbra 2030

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Num estado de emergência que se estende por mais de quarenta dias, e que em breve chegará ao fim – sem que a pandemia esteja vencida -, permitimo-nos relativizar a normalidade numa “abertura por pequenos passos” … olhando com espanto para o quanto o nosso mundo mudou.
Vivemos um contexto mundial de choque sem precedentes: um vírus que não conhece fronteiras colocou mais de metade da população mundial em confinamento; 1,4 mil milhões de estudantes em casa; um planeta mais azul visto do espaço.
Os economistas integram o covid19 nos modelos sem ousar arriscar teorias. Pela primeira vez um barril de petróleo tem um valor negativo (-40 USD) e, também de forma inédita, se assiste a um choque simultâneo da oferta e da procura. Do lado da oferta, presenciamos a paragem, forçada pelo estado emergência, do lado da procura, assistimos a um contexto de queda de rendimentos, desemprego e incerteza económica.
Vivemos entre a realidade de um vírus estatisticamente exponencial, que matou 220.000 pessoas e infetou três milhões no mundo, e a abstração de projeções do FMI, que apontam para quebras no crescimento mundial de 6% em 2020 ( 9% na Europa; 10% em Portugal). Colou-se-nos à pele um círculo invisível de distanciamento social que mudou os nossos hábitos e a nossa intimidade. Contudo, não podemos permitir que tal aconteça à custa da nossa indiferença face ao agravamento das disparidades sociais e regionais.
Embora não seja o momento de balanços definitivos, surgem evidências de que em Portugal o “grande confinamento” trouxe à luz do dia desigualdades sociais escondidas. Por outro lado, a crise agravará essas desigualdades, em termos setoriais e regionais. Grupos mais vulneráveis serão os mais afetados. Setores de salários mais baixos e maior sazonalidade, como o do alojamento e da restauração, contam hoje com as maiores taxas de encerramento das empresas. Estatísticas regionais apresentam frequentemente, como no caso do centro do país, valores enganadores, quer relativamente aos contrastes concelhios, quer à exposição ou vulnerabilidade face a médias nacionais.
Do futuro das pessoas, das pequenas e médias empresas, das regiões, muito se jogará nos tabuleiros políticos globais e na centralidade que as políticas públicas venham, ou não, a assegurar. Mas muito se jogará também no local: na co-criação dos territórios, nas relações de mobilidade, na complementaridade, na integração inovadora e na valorização da proximidade. Muito se jogará na coragem da resiliência, num primeiro tempo talvez apenas da sobrevivência, mas sempre na ousadia de pensar e acreditar num futuro imprevisível.
COIMBRA 2030, a Plataforma para o Desenvolvimento da Região de Coimbra, nasce no contexto da pandemia pela junção de esforços colaborativos entre universidade (Faculdade de Economia), territórios (Conselho InterMunicipal), e inovação e transferência (IPN), agregando muitos parceiros fundamentais, empresas e organizações. Esta será uma iniciativa que conta, se ousar ter a coragem de olhar para o incerto, ajudando a pensar com ambição o futuro da Região de Coimbra.
Vivemos tempo únicos, sem certezas ou convicções firmes sobre os modelos de um futuro próximo. Imaginamos que todos teremos que lidar com uma maior diversidade de impactos. Imaginamos que os canais de oferta de produtos se diversificarão e que os produtos locais serão valorizados. Imaginamos, hoje melhor do que antes, como o on-line se pode tornar um novo normal nas relações de trabalho e comerciais. Imaginamos que cresçam os custos de mobilidade e que passem a ser mais exigentes os requisitos sanitários. Não temos certezas face a desafios novos e desconhecidos. No entanto, não devemos ter dúvidas de que as empresas e os territórios mais ágeis na identificação de novas respostas, tenderão a recuperar mais depressa no pós-crise.
José Tolentino Mendonça escrevia a 18 de abril “E se esta é a provação mais dura, é também a mais desafiante: o confronto com uma nova realidade que tem que começar. E ter de o fazer não numa zona de certezas como gostaríamos, mas ainda num instável território de transição que se prolongará.”. Cientes da imprevisibilidade do contexto que vivemos, é importante olhar para o futuro e ter esperança no que seremos capazes de construir em conjunto. Que COIMBRA 2030 auxilie nesse desígnio e que seja uma Iniciativa que Conta.

(para partilha de informações ou comentários pf escreva para: iniciativasquecontam@gmail.com)

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