Opinião: Obrigada António Costa

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Nos últimos anos poucas foram as vezes em que elogiei António Costa. Fi-lo, porém, sempre que a minha consciência mo ditou, com a liberdade a que sempre me obrigo, escarnecendo de potenciais represálias e veladas ameaças, e tão-só com o enviesamento a que nenhum de nós, por mais que queira, consegue fugir, em consequência das provas a que a vida nos vai sujeitando.

Hoje faço-o de novo, com a liberdade de sempre e sem nenhum enviesamento (a não ser o do medo que neste estranho tempo o maldito Covid-19 me impõe), para aqui prestar homenagem ao nosso Primeiro-Ministro.
Agradeço-lhe pela coragem, que, sendo devida a quem aceita funções de tamanha responsabilidade, nem sempre temos tido como garantida.

António Costa não virou costas aos portugueses e tem falado ao País com a serenidade neste contexto exigível e hoje, decerto sabendo que tal lhe granjearia muitas e oportunistas críticas, fê-lo de novo no Programa da Cristina para uma imensidão de portugueses que têm ali o seu meio preferencial de comunicação. Fê-lo e fê-lo bem, sem nenhuma arrogância ou desdém.

Do mesmo modo, o chefe de Governo também não virou costas aos portugueses quando classificou como ‘repugnante’ o discurso do Ministro das Finanças holandês que, numa miserável demonstração de falta de empatia, cuspiu para o lado o mundo global com que habitualmente enche a boca para atrair empresas e investimento, apontando o dedo aos ‘nuestros hermanos’, que, nesta tragédia, deveriam ser seus irmãos também.

Fez muito bem, António Costa, pois defender Espanha é também defender Portugal de uma arrogância moral que não podemos tolerar e que já não deveríamos ter aceitado do congénere daquele Ministro que, há anos, acusou os povos do sul da Europa de esbanjarem dinheiro em vinho e mulheres.

Hoje, nesta crise sanitária, aquela falta de solidariedade é repugnante, sim, como muito bem disse o nosso Primeiro-Ministro, a quem agradeço por ter feito sua a minha indignação.

E não se pense que concordo com a totalidade da acção governamental durante esta crise. Infelizmente, foram cometidos erros que merecem a minha crítica, em particular, a falta de atempada protecção dos grupos de risco (idosos, em especial os internados em lares e instituições afins; cidadãos sem-abrigo, a quem deveríamos ter garantido condições mínimas de abrigo, higiene e alimentação; profissionais de saúde, a quem de facto falta equipamento adequado).

Entendo, porém, que a constatação daqueles (e de outros) erros não pode cegar-nos, impedindo-nos de assumir as responsabilidades de todos no actual estado do Serviço Nacional de Saúde ou de cumprir a obrigação de aprender com os desacertos e preparar o país para uma eventual segunda vaga desta pandemia.

Para isso é importante reconhecer que nesta crise o optimismo irritante não foi exclusivo do Primeiro-Ministro, já que, porventura por via do nacional porreirismo do costume, a maioria de nós também quis acreditar que o vírus se vergaria aos bons ares deste belo jardim à beira-mar plantado e que a sua brutalidade não nos atingiria.

Por tudo isso, não é agora tempo para apontar dedos a quem nos governa numa situação tão difícil. Pelo contrário, importante é prepararmo-nos para, como disse Rui Rio (a quem também agradeço pela prova de um estadismo que é hoje essencial), assumir um compromisso de salvação nacional (com a participação de todas as forças democráticas) que evite o aproveitamento político dos efeitos desta crise por gente menos escrupulosa, logo que o desemprego comece a aumentar e o dinheiro a escassear.

O desinvestimento no serviço público vem de longe e deixa-nos a todos no mesmo barco, no meio da maior tempestade das nossas vidas. Não é tempo para arrogâncias e nem para chiliques que nos façam notados. É antes tempo para, com humildade e determinação, remarmos juntos na mesma direcção.

Sim, por estes dias a responsabilidade é de todos e de cada um de nós. Façamos, pois, a nossa parte, obedecendo às normas estabelecidas para nossa segurança e assumindo a quota-parte de perdas que pudermos suportar, para que o Estado possa acudir a quem mais precise.

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