Que reflexão lhe inspira a pandemia fazer?
Nos últimos anos, Aubrey de Grey, reputado cientista da Universidade de Cambridge, tem vindo a afirmar que já nasceu o primeiro humano que poderá viver para sempre, um imortal! Esta visão de imortalidade tem sido consubstanciada no mundo ocidental, em que a esperança média de vida tem vindo a aumentar de ano para ano.
Naturalmente, as pessoas dos países mais ricos têm dado como garantido ter uma vida longa, quase como se fossem imortais, e sem se preocuparem com as suas necessidades básicas que já estão à partida satisfeitas, estando no topo da pirâmide de Maslow (que hierarquiza as necessidades humanas em cinco categorias). Valorizando as coisas supérfluas, as férias, os carros, a aparência, o sucesso pessoal.
E, de repente, muito depressa, tudo mudou! O mundo depara-se, agora, com um problema que ainda não sabe resolver, que atinge transversalmente toda a sociedade. De tal forma que o dinheiro e o desenvolvimento das grandes potências mundiais de nada servem face à fragilidade de terem uma sociedade mais envelhecida do que os países mais pobres e, por isso, nesta situação, poderem até ficar em desvantagem.
Perante esta nova realidade, ficámos com o nosso mundo ao contrário, voltámos à base da pirâmide. Parámos, passámos a valorizar a saúde como nunca, a segurança, a nossa casa, a família e os amigos que deixámos de poder visitar e, por sua vez, a natureza venceu uma primeira batalha contra a praga humana.
Ficámos, finalmente, conscientes de que uma sociedade socialista, humanista, democrática, com um SNS, onde todos têm oportunidade de ser tratados por igual, com um sistema de ensino e investigação públicos, que consegue organizar-se e reagir a uma situação sanitária completamente catastrófica, prova, sem dúvida, ser muito mais segura e justa do que uma sociedade liberal, em que cada indivíduo só conta consigo mesmo.
Mas, por medo, não podemos também querer o oposto, uma ditadura militar, como tenho ouvido por aí, querer militares nas ruas, não acreditando que cada um de nós consiga autorregular-se. Podemos ter de ficar isolados, sem mobilidade, de cumprir as regras, mas nunca devemos querer perder a nossa Liberdade, que tanto custou a conquistar!