A “equipa da lancheira” evita que os idosos saiam à rua

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Foto Carlos Jorge Monteiro

Aos 80 anos, Júlio Duarte diz, com a certeza de quem já viveu a maior parte da vida, que não é “pássaro de gaiola”. Aguarda à porta de casa, no centro de Condeixa-a-Nova, que o frango que encomendou numa churrasqueira da vila para o almoço chegue pela mão da equipa da autarquia que faz entregas ao domicílio para promover o isolamento social.
Não fosse a covid-19 e Júlio já tinha saído de casa há muito. “Ia eu buscar o almoço, dava uma volta, conversava, andava por lá pelo menos uma hora”, conta o antigo funcionário da autarquia. “Gosto de sair, não sou pássaro de gaiola”, repete, para logo depois confirmar que sabe que “é melhor assim, ficar em casa”. E assim fará, ele e todo o agregado familiar que tem duas pessoas com deficiência.
Para isso muito contribui o trabalho de Pedro Camarinho e dos dois estagiários do curso de Animação Socioeducativa da Escola Superior de Educação de Coimbra, Nuno Trindade e António Simões. Juntos formam a “equipa da lancheira” como se autointitulam, criada pela Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova (CMC) para entregar ao domicílio compras de bens de primeira necessidade e medicamentos a todos os reformados, devido à pandemia de covid-19.
Pedro Camarinho é técnico do município, professor de Educação Física, ator e, principalmente, um homem muito envolvido na comunidade, por isso não podia virar costas a este desafio. “Começámos por identificar todos os casos que estavam em isolamento através do gabinete de ação social, por outro lado foi feita a divulgação nas redes sociais, no site do município e com a distribuição de um panfleto porta a porta”, explica. A partir daí começou o trabalho e não há mãos a medir.
“A equipa está ultra ocupada”, afirma Nuno Moita, presidente da CMC, revelando que, além de já estar preparada uma equipa de prevenção, vai haver um reforço, com mais gente no terreno. “A melhor forma de combater esta pandemia é ficar em casa. Nós substituímo-nos às pessoas e vamos ao supermercado e à farmácia. Além de darmos um apoio, passamos a mensagem”, refere o autarca, precisando que o serviço se destina “ a todos os maiores de 65 anos independentemente da sua condição social”.
Nos supermercados, farmácias e no Centro de Saúde já todos conhecem o trio das entregas ao domicílio. Quem está atrás dos balcões trata-os pelos nomes e tenta facilitar-lhes a tarefa. “Vai-se criando uma cumplicidade. As pessoas sabem que estamos cá para ajudar”, diz Pedro Camarinho que coordena a equipa. E mesmo enquanto esperam, aproveitam o tempo para desinfetar espaços comuns com muito boa disposição. “Aqui não entra a covid”, brinca Pedro enquanto pulveriza toda a entrada do Centro de Saúde. Lá dentro, as funcionárias riem naquele que é provavelmente um dos poucos momentos de descontração do dia.

“Até querem pagar-nos”
Para utilizar o serviço, basta contactar um dos números disponíveis – 964563540, 969318967 ou 239949120. “A pessoa liga, nós vamos lá a casa, recolhemos uma ficha com a identificação dos bens que são necessários e um plafond de dinheiro, que ambos assinamos, depois vamos buscar as compras e entregamos, juntamente com o troco”, explica Pedro Camarinho. “A aceitação tem sido ótima, as pessoas têm a preocupação de manter a distância no ato de entrega e estão mesmo a não querer sair de casa”, garante. Também para os estagiários que integram a equipa em regime de voluntariado a experiência está a ser especial. “As pessoas recebem-nos de braços abertos, é muito gratificante”, diz Nuno. “Algumas até querem pagar-nos, explicamos que não podemos aceitar e que o sentimento de ajudar e a gratidão e o carinho que nos transmitem é suficiente”, complementa António.

Notícia completa na edição impressa de hoje

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