Opinião: O ovo da serpente (1)

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Todos nós, alguns de nós, de vez em quando temos de fazer um papel próximo de idiota útil. Em 2014, por vários motivos, exclusivamente de amizade, tive de responder positivamente a um convite que me colocou num local e com alguns parceiros, como hoje se diz, improváveis (embora de outros me orgulhe profundamente).

As voltas da vida levam-me a hoje, como nunca, agradecer o convite que me fez escrever o que pensava, como quase sempre, e a manter hoje na totalidade, sem tirar nem por, como raras vezes acontece.

Com uma única certeza, eventualmente lapalisseana mas que nos deve orgulhar: Somos um povo único com uma capacidade de sofrimento e renascimento assinalável. Que uma forte gente torne forte os seus lideres.

Não é tempo de citações.

Estão generalizadamente feitas.

Eça, Herculano e outros já disseram tudo de nós.

É tempo de estar atento às contradições, às confusões e aos arrependimentos.

Os paradoxos são mais do que muitos.

A política foi agarrada pela esquerda – a economia pela direita.

A esquerda internacionalista junta-se agora à direita em defesa da pátria.

A internacional falhou mas o capital conseguiu essa actuação global.

A esquerda, sempre revolucionária, sempre em busca do devir, agarrou-se á defesa de uma constituição datada, fora de tempo, ultrapassada pelas circunstâncias, atada a preconceitos que a direita procurou alterar em tempo útil.

A defesa do preâmbulo “rumo ao socialismo” permite agora a blague- parece que chegámos e já partimos.

Essa defesa do imobilismo, do estático, do amorfo teve como consequência esta passagem do oitenta para o oito.

A defesa à outrance dos direitos dos trabalhadores, do direito a sempre mais, a tudo, a tudo para todos, sempre a crescer, sempre a juntar, sempre a reinvindicar trouxe-nos aqui, ao colapso, à beira do colapso.

Parece ser tempo de acordar consciências.

De grilos falantes para os pinóquios que nos têm governado.

Aqui e na Europa.

Um número significativo dos presentes viveu os melhores sessenta anos da humanidade.

Corrijo, da Europa, neste centro do mundo, dos direitos e da civilização.

Nós confundimo-nos sempre com o mundo!

Vai deixar de ser assim.

E os melhores anos da Europa são sempre vistos como anos de paz.

Esses sessenta anos de paz (em que nos esquecemos dos curdos, dos balcãs e por vezes do leste e dos ataques aos direitos humanos), foram uma criação, uma construção clara da democracia cristã e do socialismo democrático.

Essa memória desses povos que alguns qualificam de dispensáveis e o resgate marcante, bem mais importante que os actuais, dos nossos irmãos de leste, deve-se, lembramo-nos todos, a um papa, a João Paulo II.

A democracia cristã é um reduto exemplar da dignidade do homem e é nela que continua a residir a importância do homem enquanto indivíduo e a magnitude do homem enquanto ser solidário.

É nela, enquanto doutrina política, que conseguimos encontrar o equilíbrio entre o indivíduo e o Estado.

A direita, a direita democrata cristã, quer menos Estado e quer melhor Estado.

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