Opinião: Aulas a Saca-Rolhas

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As aulas remotas implementadas recentemente devido ao COVID-19 têm criado desafios com os quais temos de saber lidar e resolver a contento de todos. Com isso, os eventuais reflexos negativos no ensino provocados por esta crise sanitária seriam minimizados.

As dificuldades são óbvias! Os pais têm de participar mais directamente no ensino dos filhos e, eventualmente, conciliar essa função com teletrabalho; os alunos têm de ter a noção de que não estão em férias e têm de estudar em casa o que pode não ser fácil pois estão habituados a compartimentar e a separar as tarefas da escola com as de casa, na sua maioria, actividades de lazer; os professores de repente têm de trabalhar num ambiente digital, muito diferente do que usavam, enfrentando grandes desafios nesta transição! Mas estas novas interacções pais  professores  alunos poderão permitir uma melhor e recíproca percepção e compreensão do papel de cada um, aspectos estes que se têm vindo a deteriorar e a perder ao longo dos últimos anos!

Com as famílias em isolamento, com a incerteza no futuro, com as pessoas a temer pelos seus empregos e de o que os espera já para depois de “amanhã”, de certeza que a preocupação dos pais para com o estudo dos filhos será uma preocupação importante, mas não será a sua maior preocupação e isso é perfeitamente compreensível.

E o estado anímico dos alunos, muitos deles muito jovens? O que pensam e sentem ao aperceberem-se de um ambiente muito tenso na sociedade, ao verem os noticiários das televisões com tantas más notícias, ao sentirem o medo e a ansiedade dos próprios pais? Terão ânimo para fazer os trabalhos que lhes são pedidos pelos professores? Se os adultos estão apreensivos, como estarão os mais jovens?

Um mundo de aplicações informáticas, plataformas de videoconferência, grupos em redes sociais, plataformas de comunicação directa chats e mail, plataformas de e-learning e plataformas de disponibilização de conteúdos, está disponível para os alunos, professores e pais interagirem. Haja vontade, saber e condições para as usar e para as explorar de modo a aproveitar todo o seu potencial. Haja também formação e tempo para as aprender e às abordagens pedagógicas especificas para este tipo de aulas e no como o fazer bem.

Mas, os alunos terão os meios informáticos adequados para isto? E conhecimentos, eles ou os pais, para os ter a funcionar e para usarem estas aplicações? E estando os pais em teletrabalho, haverá “computadores” para todos?

E os professores? Terão as competências e os equipamentos informáticos adequados e necessários? A leccionação neste ambiente digital diferente do tradicional, quer nos conteúdos quer na forma de os construir e expor, será possível de ser apreendida de um momento para o outro? E os seus medos devido à situação actual, de que também sentem os efeitos, que influência terá?

Nos novos ambientes há diferenças importantes: a reacção dos alunos, a percepção do que é dito e a ausência de feedback do que se expõe por não existir o face a face professor aluno. Isto pode trazer insegurança para alunos e professores e pode levar a percepções erradas dos processos de aprendizagem e da sua eficácia e adequação!

É necessária uma ponderação cuidada do tipo e quantidade de trabalho a atribuir aos alunos “remotos”. Não só pelas razões já referidas tendo em atenção o contexto actual, mas também porque os “novos” professores, os pais, pela sua inexperiência e mesmo desconhecimento técnico-científico e pedagógico, poderão não estar à altura de ajudar os filhos. Esta ponderação do que é possível ou não de ser pedido aos alunos e pais e por eles ser dado exige, pois, um equilíbrio que poderá não ser muito fácil de conseguir, em particular em graus de ensino avançados.

A exigência e o rigor têm de continuar a existir sem facilitismos comprometedores da formação, mas tudo com conta, peso e medida e sem esquecer que estamos todos no mesmo barco e todos com a obrigação de o levar a bom porto ou pelo menos de o tentar!

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