João César Monteiro passa a ser nome de auditório do Centro de Artes e Espetáculos

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O realizador João César Monteiro gostava mais das pessoas e da sua essência do que dos atores, com quem trabalhou em dezenas de curtas e longas-metragens, revelou a também realizadora Margarida Gil, ex-mulher do cineasta.

Margarida Gil falava durante o encontro de homenagem a João César Monteiro, na Figueira da Foz, tendo sido descerrada uma placa com o seu nome, na cidade onde o cineasta nasceu há exatamente 81 anos, em 2 de fevereiro de 1939, tendo falecido em Lisboa há 17 anos, em 3 de fevereiro de 2003.

“Ele não gostava muito dos atores, tinha dificuldade em lidar com a representação, porque a pessoa já não era ela própria, estava a ser outra. Gostava de pessoas mais do que de atores”, disse Margarida Gil, que também foi assistente de realização e atriz em filmes de João César Monteiro.

E se a realizadora assume que as rodagens dos filmes “eram complicadas”, já na escrita, João César Monteiro “era o Deus, o omnipotente, podia tudo”.

“Era de um rigor absoluto na escrita. Trabalhou com Maria Velho da Costa [escritora, uma das referências da literatura portuguesa, Prémio Camões em 2002], com quem tinha muitas afinidades”, revelou a cineasta, sobre o autor de “Morituri Te Salutant” (1974) e de “Uma Semana noutra Cidade: Diário Parisiense” (1999).

César Monteiro foi homenageado no sábado, pelo município da Figueira da Foz. Não figurava na toponímia da cidade onde nasceu, e que agora atribuiu o seu nome a um auditório do Centro de Artes e Espetáculos.

Na cerimónia, Margarida Gil agradeceu a homenagem, ao presidente da Câmara, Carlos Monteiro, e manifestou a “certeza” que, para João César Monteiro, “seria mais importante” ter o nome no auditório da Figueira da Foz, “do que ter uma sala no CCB [Centro Cultural de Belém] ou na Gulbenkian”, em Lisboa, cidade onde viveu durante quase meio século.

“Para o João, a relação com a Figueira era muito importante, mas muito escondida. Mas quando cá vinha era sempre com um grande sorriso. E é a primeira vez que existe no país uma sala só com o nome de João César Monteiro, que, garanto-vos, é o maior cineasta português. Portugal é sempre muito ingrato para com os seus, mas, neste caso, tem um presidente de Câmara que não o esquece “, enfatizou.

No colóquio que se seguiu sobre a vida e obra do realizador português, a conversa centrou-se mais na personalidade, vivências e também na infância e adolescência de João César Monteiro, passadas na Figueira da Foz, do que propriamente nos seus trabalhos cinematográficos.

Margarida Gil recordou-lhe a intransigência mas também a grande sensibilidade, argumentando que César Monteiro “era um poeta, sobretudo”, que tinha como maior qualidade “a capacidade de resistir à adversidade”.

“Nunca se vendeu, era de um rigor ético exemplar, também acompanhado de um mau humor muito grande”, assinalou.

Já Carlos Cachulo, militar na reserva, que conheceu César Monteiro na “segunda classe da escola primária, e lhe acompanhou os passos até à Academia Figueirense”, recordou ter ficado “pasmado” com a biblioteca do amigo, quando eram companheiros de liceu: “Eu lia os livros do Emílio Salgari [autor das aventuras de Sandokan] e do Júlio Verne, ele já não lia nada disso”, frisou, defendendo que apesar da “homenagem singela” da Câmara Municipal, João César Monteiro “merecia mais”, incluindo uma evocação da sua passagem pela escola do Castelo, em Buarcos. “A Câmara tem de repensar melhor uma homenagem ao César”, argumentou.

Toda a informação na edição de amanhã, segunda-feira, do DIÁRIO AS BEIRAS

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