Opinião: “Nem tudo o que parece é”

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Este é um sábado especial na vida do PSD. Faço aqui algumas declarações de interesse. Sou militante do PSD há 34 anos , apesar de afastado de lides partidárias há 7 anos. Outra declaração é que conheço relativamente bem os dois candidatos que, hoje, disputam a liderança e tenho manifestamente muito mais empatia pela pessoa do Luís Montenegro. Empatia não deve ser factor de escolha e por essa razão, declaro-o. Depois, também é importante dizê-lo, penso pela minha cabeça, pelo que nunca senti que a minha independência tivesse sido condicionada e, ao mesmo tempo, reconheço que actualmente, ser militante de um partido não é , nem popular , nem especialmente vantajoso.

Se analisarmos as duas décadas deste século, o PSD esteve no governo em condições especialmente difíceis para Portugal. A primeira, em 2001, após o “pântano” do Engº Guterres e, depois, em 2011, após a bancarrota deixada pelo Engº Sócrates. Há muita gente que afirma que o PSD tem esta sina de governar em situações de emergência, sempre sem pinga de solidariedade do partido as provoca. É num cenário de recuperação financeira e económica que, em 2015, a coligação PSD/CDS ganhou as eleições, acredito, por causa da forma clarividente que o Povo Português olhou para tudo o que se passou durante aqueles anos. O que se passou depois, é conhecido. Os partidos de esquerda uniram-se ao PS de António Costa e formaram o primeiro governo da nossa democracia formado por um partido que tinha perdido eleições. Em 2017, Passos Coelho demitiu-se na sequência de eleições autárquicas e Rui Rio ganhou a Santana Lopes, tornando-se Presidente do PSD. O que fez , mesmo sem intenção, revelou manifestamente muita falta de jeito na interpretação do que é a cena política nacional e o que os Portugueses percepcionam. Fê-lo por manifesta falta de experiência. Não é a idade que nos traz experiência. Ajuda, mas não chega.
Na realidade, teve o condão de trazer António Costa para o Centro do espectro político quando este se tinha acantonado com o PCP e o BE, na defesa de valores que muitos dos seus próprios camaradas puseram em causa. Hoje, ironicamente, o lema da candidatura de Rio, é “Portugal ao Centro”, como quem quer dizer que alguns dos seus companheiros não são do Centro. Mas, são. São do Centro, sem se esquecerem que é a sociedade que cria riqueza para possibilitar ao Estado que cumpra as suas funções. Rui Rio tem essa forma de estar na política. Erra, mas diz que são os outros. Abriu o único debate destas eleições a falar de Maçonaria (outra declaração de não interesse – não pertenço a nenhuma organização maçónica) e a fazer insinuações sobre os seus companheiros também candidatos. Criou ruído, levou o debate para uma discussão medonha e sem interesse público e, agora, após a primeira volta , veio dizer que não faz mais debates para evitar que o bom nome do PSD saia empoeirado.

Depois, num determinado momento insinuou que a candidatura de Luis Montenegro andava a oferecer lugares. Este negou de forma taxativa e , na sequência, veio dizer que era ao contrário. Havia apoiantes chegados a Rio que o andavam a fazer. Perante esta declaração, Rio veio dizer que não comentava porque não queria que o debate atingisse um nível baixo. Mas, há mais. Rio auto proclama-se como o paladino das eleições partidárias “limpas” , uma vez que não quer “chapeladas”. Nesta parte concordo com o que diz, apesar de não concordar com o que deixa fazer. Na realidade, Rio foi eleito também por causa e por ação de vários caciques locais, tendo ganho em alguns concelhos com percentagens “cubanas” com a ajuda de carrinhas e autocarros.
No passado sábado, houve locais em que num universo de votantes, votaram todos sem excepção nele. Bem sei que agora, sou eu que estou a insinuar, mas é difícil não o fazer quando o discurso de alguém não tem aderência com a realidade. Rio tem outro problema ainda. Como sabe que é popular “malhar” nos partidos, deixa passar a mensagem que com ele mudará tudo e , por essa razão, faz questão de hostilizar os seus companheiros. Hostiliza-os porque, genuinamente, pensa que terá ganhos políticos, apesar de dizer, ao mesmo tempo, que tem de ganhar com uma diferença grande para acabar com a guerrilha.
Quem ganha e é um verdadeiro líder (diferente de chefe) tem de ouvir, chamar e agregar. Rio não gosta disso. Ouve pouco ou quando o criticam , marca as pessoas e não tem paciência para gastar tempo a ouvir opinião divergente. É um estilo que fez um ensaio no Porto e, segundo ele, resultou. No nível nacional não tem resultado nada. Perdeu as eleições europeias, perdeu as legislativas do passado mês de Outubro com um resultado miserável, mas , ainda assim, advoga que o caminho é este. A última pérola foi a sua afirmação de que Luís Montenegro via estas eleições “como a vida ou a morte”. Talvez fosse uma frase mais bem aplicada a um candidato que tem mais de 60 anos e que se perder, ficará como deputado e terminará a sua carreira política de uma vida que, em todo o caso, foi respeitável.

Hoje, o PSD terá a oportunidade de voltar a ter ambição, de se mobilizar e de mobilizar a sociedade portuguesa. O PSD sempre foi um partido que conseguiu transformar Portugal, social e economicamente. O PSD precisa de uma liderança que não castigue, apesar das diferenças. O PSD tem de voltar a falar com a sociedade sem conflitualidade e marcando bem a diferença para quem governa. Não porque sim, mas porque tem essas competências e porque continua a ser o partido mais genuinamente português.

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