Existe uma organização com sede em Paris que ajuda a proteger os whistleblowers em África, que são pessoas que denunciam ou divulgam informações sobre acções ilegais, ilícitas ou contra o interesse público, por eles testemunhadas. Ao divulgar essas informações, esses denunciantes correm o risco de sofrer represálias por parte daqueles que são acusados das irregularidades. Por isso a Plataforma africana para a defesa dos whistleblowers defende que haja direitos e protecção legal para os denunciantes, devendo os políticos desenvolver e fazer aprovar leis que estabeleçam um regime sobre padrões e práticas dos denunciantes.
Enquanto isso não acontece, a Plataforma em questão possui um website seguro, com serviço de mensagens encriptadas, disposta que está a receber tais informações dos denunciantes. Para além disso, tem advogados dispostos a ajudar nas denúncias e na defesa à borla em processos judiciais. O que a Plataforma normalmente faz é redireccionar a informação recebida para jornalistas de investigação. Entra aqui o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), que recebeu os documentos Luanda Leaks da dita Plataforma de Protecção de Denunciantes na África (PPLAAF).
Também este consórcio trabalha para proteger os denunciantes e faz lobby junto aos governos para introduzir e fortalecer legislação para proteger as pessoas que divulgam informações sobre ilegalidades. O co-fundador da Plataforma africana, que é um advogado francês de direitos humanos William Bourdon, disse numa recente conferência do Consórcio de Jornalistas ocorrida em Paris que proteger os denunciantes deve ser um dever de todos os governos e sociedades, afirmando que “o sacrifício e a coragem deles são cruciais para abrir os olhos do mundo para as enormes, complexas e ocultas ameaças ao interesse público”.
A última “vítima” é Isabel dos Santos, que já sabe que existem mais de 715 mil documentos a serem vasculhados. Nesses documentos há e-mails confidenciais, contratos, balanços e balancetes, auditorias, organogramas, vídeos de reuniões de conselhos de administração, empréstimos bancários, escrituras, contratos públicos, facturas, pareceres tributários, declarações fiscais, entre outros. É desta forma que pretendem os jornalistas revelar como em 20 anos Isabel dos Santos se tornou a mulher mais rica em África, com uma rede de mais de 400 empresas e subsidiárias em 41 países, apontando ainda o dedo à PwC e ao Boston Consulting Group que facturaram mais de 5 milhões de euros entre 2010 e 2017 pelos serviços prestados às empresas de Isabel dos Santos e marido. Só ainda não foi revelado se algum dos documentos foi fornecido por Rui Pinto, o mais famoso whistleblower português.