Opinião: José Hermano Saraiva, uma personagem controversa

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“Haverá cartilha para as nossas opiniões históricas?” (Eça de Queiroz).

Anos atrás, num meu artigo de jornal, tive a “ousadia” de nomear o meu antigo professor de História no Liceu Passos Manuel de Lisboa José Hermano Saraiva historiador. Logo caiu sobre mim “o Carmo e a Trindade”!

Para me libertar de uma nódoa que poderia alastrar como nódoa de gordura em fato novo, afadiguei-me em procurar em fontes fidedignas o significado da palavra historiador: 1 ) “Aquele que faz pesquisa, que escreve acerca de história” ( “Grande Enciclopédia Luso-Brasileira”) ; 2 ) “Aquele que se especializou em ou que escreve acerca da história” (“Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”).

Indultado da acusação de ignorante, parti afoito para a consulta de alguns dados biográficos oficiais de José Hermano Saraiva, tendo-me deparado com sete Orações Académicas sem serem escoradas no seu cargo de Ministro da Educação do Estado Novo, editadas pela Academia de Ciências de Lisboa.

Das instituições culturais a que pertenceu nomeio a Academia de Ciências, a Academia Portuguesa de História, a Academia da Marinha e o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (Brasil). Desobrigo-me, por ser muito extenso o seu acervo, de enumerar as várias obras de que é autor, enumerando, apenas, os três volumes da “História de Portugal” e o programa da RTP “O Tempo e a Alma”.

Em 2012, na Assembleia da República foi votado um voto de pesar pela morte de José Hermano Saraiva tendo votado a favor PSD, CDS e PS e contra o PCP, os Verdes e o Bloco de Esquerda. Muito recentemente, no passado dia 2 deste mês, foi José Hermano Saraiva, cumpridos os 100 anos do seu falecimento, homenageado na Fundação Calouste Gulbenkian.

Segundo notícia dos jornais, no discurso, proferido na ocasião, o Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa , enunciou ter ele conquistado “um lugar privilegiado no coração fiel de milhares ou milhões de portugueses” devido ao afecto e que, por isso, não teve apenas popularidade, teve e mereceu celebridade”. Marcelo referiu-se, ainda, aqueles que “dele nunca gostaram”, que nunca compreenderam que “aquele homem era muito mais do que inteligência, brilho, curiosidade permanente, enciclopedismo raríssimo, inventiva e poder da palavra

No ano de 2005, quando o Professor José Hermano Saraiva foi vilipendiado numa notícia de jornal, solidarizei-me com ele tendo recebido uma carta sua de agradecimento, escrita com evidente desilusão, aqui e ali polvilhada de fina ironia, de que transcrevo um breve excerto: “Recebi a sua carta com o recorte do jornal.

Agradeço-lhe muito as palavras tão amigas que usa a meu respeito. Não sabia do artigo do Dr. Acácio Barradas mas não me surpreende. Conheço a pessoa e sei que não fez aquilo por mal. É incapaz de fazer melhor. Fiquei particularmente enternecido com a recordação dos tempos da minha juventude em que, com tanto entusiasmo, tentava iniciar os meus jovens amigos na inteligência da História”.

É esta, portanto, uma singelíssima homenagem de um seu antigo aluno de um país em que uns tantos renegados, depois de 25 de Abril, diziam ter aceitado elevados cargos durante o Estado Novo para minarem as estruturas fascistas (agora que estruturas minam eles?).

Ainda que aceites, bom ou mau grado, como lacaios de novos senhores da política portuguesa actual, deve estar sempre presente que “o traidor é sempre odiado”, como escreveu Miguel de Cervantes.

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