Opinião – Iniciativas que contam… Limites invisíveis

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Quando visitei pela primeira vez o projeto da Casa da Mata, no Choupal, recordo ter sido invadida por um conjunto de memórias e sentimentos, perante a revelação, longe de palcos ou discussões retóricas, de uma realidade aparentemente fácil de alcançar: a de quão simples pode ser fazer diferente e transformar sonhos em realidade. O tempo enevoado não retirava clareza ao que se via: o Choupal era uma “escola”, onde crianças, brincavam, exploravam, faziam construções e aprendiam mais do que conseguiriam fazer em qualquer sala de aula. Às minhas memórias de infância, das canastras de sardinhas de folhas de pessegueiro no jardim da minha avó, juntaram-se as utopias de Jamil Salmi de universidades sem edifícios ou salas de aulas ou bibliotecas bem como os asfixiantes desafios administrativo-burocráticos das políticas públicas. Ali, tempos e espaços intersetaram-se e o complexo se fez simples.
Num mundo em que acreditamos que a segurança está no controlo e que proteger os filhos é a melhor forma de os defender, o Projeto Limites Invisíveis desmonta o equívoco. Porque as crianças são competentes, porque devem poder ser agentes participativos e porque o seu sucesso (e sobrevivência) depende da autorregulação, isto é da capacidade de identificar (ou estabelecer) os limites, mesmo quando não estão visíveis, e de atuar em função disso, Limites Invisíveis promove a autonomia em liberdade a partir da natureza, da escola e das famílias.
A iniciativa, inspirada nas Escolas de Florestas escandinavas, nasceu do sonho e da determinação de pessoas da Escola Superior de Educação de Coimbra; Universidade de Aveiro e Centro de Apoio Social de Pais e Amigos da Escola (CASPAE). Prestes a fazer quatro anos, o projeto permitiu já que cerca de 300 crianças do pré-escolar pudessem, durante oito semanas (de 2ª a 5ª), brincar e aprender tornando-se especialistas em eco-sistemas. Alargou as suas atividades ao 1º ciclo, em projetos como o Pro(g)Natura, resultado da parceria com Agrupamentos de Escolas, e com o projeto de educação digital “All in Scratch” (CASPAE), enquadrado como iniciativa de inclusão social pelo Projeto Trampolim (CMC). http://limitesinvisiveis.pt
Limites Invisíveis é uma iniciativa que conta!
É-o pelo reconhecimento externo: da Fundação Calouste Gulbenkian, como Academia do Conhecimento, e do Portugal Inovação Social.
É-o pelas colaborações que estão na sua origem e na sua história: instituições de ensino superior cruzam ensino e investigação com responsabilidade social; escolas e famílias envolvem-se, participam e capacitam-se; estudantes Erasmus requalificam o edifício; empresas apoiam o projeto e os próprios trabalhadores voluntariam-se para ações de restauro e limpeza.
É-o pelos exemplos institucionais, nomeadamente do Instituto Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e do CASPAE. Este último, evidenciando como a associação de um grupo de pais em torno dos problemas dos filhos, pode, vinte anos depois, desenvolver atividade com impacto na comunidade (desporto, infância e adultos) empregando 150 pessoas.
É-o pelo sonho e pela determinação de pessoas que desde o início não têm baixado os braços para dar futuro ao projeto: Ana Coelho, Vera do Vale(ESEC) Emília Bigotte, Isabel Duque (CASPAE), Aida Figueiredo e Marlene Miguéis (UA).
Num mundo global em que se discutem os limites do homem e do planeta, Limites Invisíveis é um desafio à nossa capacidade de educar e aprender. Mais do que educar na, ou para a, natureza Limites Invisíveis educam a autorregulação: a capacidade de nos limitarmos e de nos superarmos perante o desconhecido ou o imprevisto. Lembram-me as palavras de José Barata-Moura, na altura Reitor da U Lisboa, em tempo de reflexão da Lei de Bases da Educação: “O grande problema que espreita, a grande tarefa que a todos desafia, é: educar em – em autonomia, em liberdade, em responsabilidade.”

(para partilha de informações ou comentários pf escreva para: iniciativasquecontam@gmail.com)

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